Pescadores enfrentam arribas sem protecção

Odemira. Taxa de sobrevivência em casos de quedas é de quase zero

"Uma vez, estava à pesca de cana e apanhei um susto com o mar falso. Veio uma onda e, quando me apercebi, só tive tempo de me agarrar à rocha. O mar levou-me a cana e tudo o resto. Isto acontece porque, às vezes, estamos tão entusiasmados a apanhar peixe, que nos esquecemos do perigo." O relato de Carlos Carvalho, de 38 anos, residente no Castanhal (Odemira), serve para ilustrar a postura de muitos praticantes da pesca lúdica que, conhecedores das armadilhas fatais das arribas, desafiam a vida em troca da adrenalina.

A portaria que regulamenta o sector é omissa no capítulo das obrigações de segurança e as autoridades não podem fazer mais do que lançar avisos, esperando que o bom senso e a sorte de cada um sejam suficientes para evitar o pior. "A não ser em situações extremas, não podemos dizer a uma pessoa para sair de determinado sítio, até porque, se for preciso, a seguir, apresenta queixa porque o proibimos de exercer uma actividade para a qual está autorizado", explica o capitão do Porto de Sines e comandante da Polícia Marítima, Félix Marques.

Para além de procurarem os locais rochosos, onde o mar é batido - e propício à concentração dos pés - e o acesso terrestre e marítimo nem sempre é fácil, os pescadores caem, muitas vezes, no erro de irem sozinhos, atitude altamente desaconselhada pelas autoridades. Félix Marques lembra que, por regra, os alertas são dados "tarde demais", diminuindo-se assim a probabilidade de sucesso no socorro que, nestes casos, já é "praticamente zero", dado que muitas das vítimas sofrem traumatismos que inibem a sua reacção.

A utilização de um colete de salvação pode, segundo o responsável, ser uma importante medida de segurança ao permitir que a vítima consiga flutuar e seja encontrada mais rapidamente. A ideia não colhe, no entanto, grande entusiasmo da classe, insatisfeita com as obrigações existentes. "Se pensarem em obrigar os 'lúdicos' a usar colete, acho que não vai ser bem--visto, porque as pessoas não têm dinheiro e a lei existente já é restritiva", diz Carlos Carvalho, porta-voz da Comissão de Pescadores e População do Litoral Alentejano e Costa Vicentina. Carlos Alberto, ex-pescador lúdico de 62 anos, confirma a sua previsão: "Colete? Agora cá! Já viu o que era uma pessoa pescar com um colete vestido?"

Nos últimos três anos, nesta faixa litoral, houve um decréscimo de mortos de pescadores lúdicos, passando-se de oito vítimas em 2006 para cinco no ano seguinte. Em 2008 não houve vítimas, quadro que se alterou em Janeiro deste ano, com a morte de um homem, no cabo de Sines.

Fonte: DN

2 comentários:

Anónimo disse...

Desculpe lá amigo. Certamente é boa pessoa, mas não concordo consigo.
Prever em Portaria que os pescadores lúdicos têm que usar o quê?
Colocar barreiras?
O mar é imenso, a costa e as arribas são como são.
Quem quer vai, quem quer fica. Máxima liberdade, máxima responsabilidade!
Oiça, o seu comentário pressupõe que este tipo de portarias têm algo por onde se lhe pegue.

Mas, aquilo é LIXO legislativo e denota idiosincracia mesquinha.
João Parreira

Fernando Encarnação disse...

Viva João Parreira.

desde já o meu agradecimento pelo comentário.

primeiro não foi eu que escrevi o a noticia, e também não vejo nenhum beneficio do que esta ali escrito.

Curiosamente escrevi à tempos dois artigos sobre segurança que tenho no blog, e nunca citei o colete.

A prevenção é a segurança que deveremos de ter, não devemos arriscar, deveremos ter consciência sobre os perigos que escondem uma pescaria e fazê-la em consciência.

Também concordo com o lixo legislativo.

Abraço e obrigado pelo comentário mais uma vez.