Pesque, não suje !


A Câmara Municipal de Aljezur promoveu, mais uma vez, à limpeza dos principais pesqueiros na área do município. Em simultâneo lançou a campanha subordinada ao lema “Pesque, não suje !”, com a colocação de painéis informativos onde os frequentadores habituais dos referidos pesqueiros podem tomar contacto com o “estado” a que alguns locais chegaram por força de comportamentos que se consideram inadmissíveis e intoleráveis para quem “ama e defende” a pesca lúdica.

A autarquia teve ainda a oportunidade de apresentar oficialmente a problemática às várias Associações, nacionais e regionais, na expectativa de serem desenvolvidas, junto dos seus associados, amigos, colaboradores e “amantes da pesca lúdica”, acções que visem a correcção deste tipo de comportamentos.

A Câmara questiona-se mesmo, como e até quando poderão, associações e autarquias continuar a sua “luta” pela alteração das portarias da pesca lúdica que queremos e pretendemos ver alteradas, quando tais práticas constituem um verdadeiro “cheque em branco” para que qualquer governante possa restringir ainda mais, prática tão ancestral e importante para o Município de Aljezur, em presença das verdadeiras “lixeiras” em que alguns pescadores transformaram tão afamados pesqueiros.

Certos que conseguiremos despertar consciências, acreditamos que os utilizadores e visitantes destes espaços assumam de vez comportamentos cívicos que salvaguardem, defendam a pesca lúdica, e o património natural que a todos pertence.

Fonte: CM Aljezur

A pesca: Convém não exaltar o lado animalesco do homem

Resolvi elaborar uma entrada a propósito do comentário na entrada Os robalos não se medem aos palmos , pela Srª. Rosalina Soares, em Setembro 27, 2010.

Este "gozo" não deveria acontecer, bastaria o prazer de conseguir apanhar algo para comer...

Srª. Rosalina Soares, vou transcrever uma opinião que me "marcou" a minha filosofia de pesca e caça submarina já há alguns anos, elaborada por um dos melhores caçadores submarinos nacionais o António Luiz Pacheco, que passo a citar.

"Pensar a Caça, é o que faço desde há muito e cada vez mais, como ser pensante que sou e o que tantas vezes aqui tenho trazido, seja em artigos técnicos, histórias ou artigos de viagens. Eu sei perfeitamente porque caço!

Não caço para comer – isso faz o leão –, nem caço por instinto – isso fazem os meus cães –, eu caço em consciência! A minha “área cinzenta”, há muito que neste campo desapareceu, porque sei cada vez mais e melhor porque é que caço; ao fim de tanto tempo, tantos lugares, tantos peixes… mas continuo a filosofar sobre a caça, as minhas motivações, sobre aquilo que vejo e sinto, ainda e sempre, as sensações renovadas em cada jornada, sempre na expectativa do que vou ver, sentir, do que vai acontecer…do que está para além.

Penso também na morte, claro, eu sou caçador e como tal convivo com ela, inflijo-a e o assumo… mas também sei e cada vez com mais segurança que não gosto de matar, que a morte dos seres que caço não é o meu objectivo, mas sim a forma de atingir uma finalidade implícita ao caçador:

- A sua posse! Só assim me apodero deles fisicamente, os apreso !

Vê-los, guardar a sua imagem num papel, não me basta…porque eu sou um caçador!

Matar é uma consequência da caça, faz parte do processo como faz parte da vida. Mas não se resume a tal, o que é uma confusão comum entre os não-caçadores, que só conhecem a morte como sendo fruto do ódio e da violência. Eu pergunto então:

- Se o caçador mata por prazer, qual é a motivação dos amantes dos animais? Ter sexo com eles? É que na mesma linha do absurdo e do desconhecimento, o amor só se justifica com o acto sexual…

A que nível vamos colocar S. Francisco de Assis, Madre Teresa de Calcutá, Gandhi ou João Paulo II? Como pessoas que amaram intensamente… de tarados sexuais?

E Aquilino Ribeiro, Miguel Torga, Hemingway ou Manuel Alegre? Porque caçadores apaixonados… sádicos sanguinários?

Sucede que a morte para quem a entende, e mesmo para a ciência, não é o fim e sim uma passagem:

- Uma planta ou animal, morrendo vão incorporar outros e passar a viver neles, e por aí adiante, perpetuando-se como a própria Natureza que é infinita, e se mantém assim a vida. Em todos os estratos e em todas as formas de vida há caçadores e presas e transferência de energia, no plano físico ou noutro – caso do troféu! O Caçador faz disso um acto de veneração, sendo a Natureza o seu altar.

“ Quando matardes um animal, dizei-lhe com todo o coração:

- Pelo mesmo poder com que te abato, também eu sou abatido; e também eu serei consumido. Porque a lei que te entregou nas minhas mãos me irá entregar a uma lei mais poderosa. O teu sangue e o meu sangue mais não são do que a seiva que alimenta a árvore do céu.”

(Kahlil Gibran - O Profeta) 

Não é por acaso que a caça é indissolúvel da gastronomia, por tradição, quem sabe se por via de uma sabedoria infinitamente superior que transformou bichos-homens em seres humanos.

Simples animais que eram presas de outros, mas alijando essa condição se ergueram primeiro como predadores e depois se tornaram homens. É essa passagem que o caçador celebra ainda hoje quando sai para a Natureza de arma na mão, integrando-se nela em acto de caça, em glória de predador, algo que o passeante de cajado ou máquina fotográfica, não pode experimentar:

- A suprema liberdade de não temer, porque já não é presa!"

António Luiz Pacheco (fim de citação)


(Rosalina Soares) É como a caça às rolas. Mas, porventura, aquele bicho tem alguma carne que mate a fome? Ou penas para encher um travesseiro?

Não tendo qualquer elo de ligação com a caça cinegética com/sem uso a armas de fogo, nunca armei uma loisa sequer, nunca me seduziu a caça (em terra), apenas vejo os recursos terrestres como mais limitados, assim como as zonas de caça e a própria agricultura que contribuía de uma forma positiva para as espécies cinegéticas, quer na sua alimentação como abrigo.

Como é óbvio não lhe poderei responder a essa questão uma vez que não domino a área.


(Rosalina Soares) Se não é, se não está a poluir (espécie a crescer desmedidamente) por quê mata-lo assim, sem ser para matar... a fome?

Não concordo com a sua questão, nem todas as espécies que crescem desmesuradamente devem ser aniquiladas simplesmente para matar a fome, por exemplo certas espécies de flora invasiva, crescem desmesuradamente e não servem para matar a fome, nem aos outros animais (ex: Chorão, acácias, etc).

Na fauna, os javalis, que devastam grandes campos de milho, os ratos, os pombos as gaivotas que apesar de contribuírem para a limpeza dos oceanos e áreas fluviais, cada vez mais estão a procurar as zonas populacionais, o seu contacto com os esgotos a céu aberto e os produtos nele libertados (medicamentos, bactérias, etc) fazendo delas um laboratório vivo de microorganismos, será justo matarmos todas as gaivotas ou parte delas? É uma espécie difícil de controlar a nível de população da espécie.

No mar, a pressão em algumas espécies, o aumento de temperatura contribui para um desaparecimento e/ou ausência de determinados predadores, como tal, as espécies que servem a cadeia alimentar desses predadores aumenta desmesuradamente colocando a base da sua alimentação em risco em alguns casos, por exemplo: O desaparecimento e/ou ausência das anchovas, origina um aumento de cavalas, salemas, bogas, que por sua vezes se alimentam de algas e fitoplâncton, as algas que servem de alimentação a essas espécies não tem hipótese de fixação quando servem de base de alimento a outras espécies.

O peixe está em piores condições que o touro nas lides de touros à portuguesa e nos touros de morte.

Tocamos o patamar do fundamentalismo...

Quando não sabemos das coisas não convém inventar, os exemplares capturados por mim tem morte imediata (neste caso os robalos), e porque, em primeiro lugar porque são sangrados na guelra, tem uma morte rápida, não sofrem tanto, não morrem por asfixia, nem tendem a produzir a concentração do sangue em determinais locais pelos movimentos por falta de oxigénio.

Quanto aos touros tenho uma opinião muito pessoal sobre os mesmos, já trabalhei com veterinários sei o que isso é... Quanto à tauromaquia gosto de ver uma boa pega!

(Rosalina Soares) Por que razão exaltar este tipo de luta entre um cérebro de um homem (ou mulher!) e o cérebro de um peixe? Já sei, vão dizer-me que o peixe não tem cérebro... e acaba-se a conversa.

A resposta está na filosofia da caça/pesca.

Os peixes tem cérebro, pensam, agem por impulso, dispõem de um sistema sensorial que lhes proporciona um estado de alerta, reflexos e sentimentos, só lhes falta falar...

(Rosalina Soares) Se assim é passo a ser defensor da liga dos ademais.

www.lpda.pt

Tem aqui o link para o site da Liga Portuguesa do Direito do animal.

(Rosalina Soares) Moral da estória: convém não exaltar o lado animalesco do homem.

Por vezes o lado animalesco do Homem exalta-se quando existe um fundamentalismo desmesurado, isto é, existe legislação, muito ou pouca fiscalização, medidas, tamanhos, pesos máximos de captura, períodos de defeso, licenças, zonas de protecção, cabe a cada um, utilizador do mar, respeitar a legislação em vigor. Mas também cabe aqueles que não utilizam os recursos respeitarem o gosto e sensações de cada um...

Grato pelo comentário.

Robalos não se medem aos palmos!

Exemplar 2.6

Mais uma apreensão na costa, desta feita tratou-se duma pérola, sim algo que se bateu até ao ultimo momento o de chegar ás minhas mãos, mas entretanto, o que aparentava ser um cordeiro tornou-se numa fera...

Chegada ao local, ao terceiro lançamento, o menino ferrado, algum "estrabuxar" à superfície, mas depois arrancou na minha direcção, a 20 metros de mim parou e começou a luta, levava multi, o "drag" cantava, recuperava, ele voltava a investir e a levar mais multi, o mar estava mexido no local e era um zona pouco profunda com muita pedra, qualquer descuido o multi não aguentaria...

Até que o coloquei em local (in)seguro com a ajuda do mar, mas mesmo assim foi trabalhoso colocar-lhe as mãos em cima, pois ainda tinha água, antes de se entregar ainda me marcou a palma da mão com a alheta cortante e mais três furos das fateixas, nada de grave...

Foi talvez um dos mais lutadores que já enfrentei no mar...

Espero que a tua força e energia seja incorporada em mim...

Obrigado Labrax!


Fundo: Pedra
Maré: Baixa-mar
Multifilamento: Fireline Cristal 0,17 mm
Cana: Bullet Lure 3.0
Carreto:Tica - Splendor SJ 3000
Artificial:
Daiwa - Saltiga 170

Artificiais+Spinning+Adrenalina+Exemplares

Maior exemplar 1.7

Dois exemplares "apreendidos" na Costa Alentejana, algures entre a zona intertidal e a fraca rebentação que se fazia sentir no local e na altura da captura.

A artificial utilizada foi a Feed Shallow 128 da Tackle House, pelas condições da água mais clara e com pouca ondulação, somando também a particularidade da cor branca mais utilizada ultimamente por mim.

O carreto foi a estrear com peixe, já o tinha posto à prova mas sem sucesso, desta vez deu para comprovar que é um bom espécime para o segmento de spinning de costa, vamos ver o que o futuro lhe reserva.


Artificiais+Spinning+Adrenalina+Exemplares

ASAE, poderá ser confundido pela outra ASAE, mas "Qualquer semelhança com a realidade será pura coincidência", trata-se efectivamente de somar as iniciais de Artificiais (A), corresponde com o isco artificial utilizado para a captura do exemplar(es) + Spinning (S), corresponde com a modalidade/técnica de captura + Adrenalina (A), corresponde com o sentimento que a procura/embate/captura manifestam + Exemplares (E), corresponde por fim aos exemplares quando capturados obviamente.

Quando não existem capturas não existe ASAE só ASA.

Fundo: Misto
Maré: Baixa-mar
Multifilamento: Fireline Cristal 0,17 mm
Cana: Bullet Lure 3.0
Carreto:Tica - Splendor SJ 3000
Artificial:
Tackle House - Fedd Shallow

Perceve está sobre-explorado e “com bastantes problemas”


Perceve está sobre-explorado e “com bastantes problemas”

O perceve, marisco que se encontra na Costa Vicentina (Aljezur e Vila do Bispo), está sobre-explorado e “com bastantes problemas”, apesar da regulamentação existente, afirmou a bióloga Joana Fernandes, que defendeu ser necessário efectuar mais estudo sobre a espécie.

A investigadora da Universidade de Évora, que descobriu uma nova espécie de perceve, em Cabo Verde, disse hoje à agência Lusa que, dos trabalhos feitos no sul do país, conclui-se que a espécie “não está bem, está com bastantes problemas, está numa situação de sobre exploração”.

Joana Fernandes defendeu ser “necessário fazer muitos mais estudos para se tentar avaliar a situação”. Trabalhos desenvolvidos pela Universidade de Évora debruçam-se principalmente sobre a costa alentejana e as Berlengas e, em relação ao norte, “não se sabe de nada”.

A situação já levou à criação de regulamentação para controlar a apanha, mas, “na maioria das vezes, não é cumprida e sabemos que está a rarear bastante a abundância de percebes”, um marisco “economicamente importante em Portugal”, referiu.

De qualquer modo, aquela lei “ainda é muito recente e é difícil avaliar se está a ter impacto e se está a ajudar a preserver a espécie”. Por isso, seria importante monitorizar a sua aplicação, defendeu.

O percebe aparece em zonas rochosas e de bastante agitação marítima.

Em Portugal, encontram-se percebes na zona entre a Ponta de Sagres e Sines, na região do Cabo Carvoeiro e Arrábida, no Cabo Mondego e na costa entre o Minho e o Porto.

Fonte: Jornal do Algarve

Uma outra:

Na raia espanhola a captura desenfreada de percebes obrigou os mariscadores a interromperem a actividade durante seis anos. Aconteceu nos anos 80 mas os mariscadores galegos não esqueceram essa fase e aprenderam com o erro. As confrarias decidiram organizar o sector tornando-o um exemplo que a Associação dos Mariscadores da Costa Vicentina e Sudoeste Alentejano (AMCVSA) admite seguir agora, confrontada com o abrupto desaparecimento daquela espécie.

O sinal vermelho, dado há um ano, agudizou-se nos últimos dois meses e receia-se que a época de defeso - de 15 de Setembro e 15 de Junho - não chegue para recuperar a população. Para que o cenário dos anos 80, na Galiza, não se repita no Litoral Alentejano e Costa Vicentina, urge lançar regras de coordenação. As quantidades diárias que cada mariscador pode apanhar é um dos temas que vai agora ser analisado. Nesta altura em Portugal é permitida a captura de 20 quilos de percebes, que podem ser vendidos fora das lotas, desde que haja autorização da Direcção-Geral das Pescas, cabendo aos próprios mariscadores estabelecer o preço. Em Pontevedra, na Galiza, a venda só é admitida nas lotas, enquanto cada marisqueiro só pode apanhar quatro quilos.

Os preços andam pelos 50 a 70 euros o quilo, podendo chegar aos cem euros em dias de menos oferta. Já do lado português, o consumidor consegue adquirir um quilo de percebes a partir de 15 euros.

A bióloga Dora de Jesus, da AMCVSA, estima que para garantir a sustentabilidade os mariscadores portugueses não deveriam capturar além dos dez a 15 quilos diários, admitindo que a área de captura é muito considerável, dando uma média de um quilómetro de costa por cada um dos 80 marisqueiros registados.

Na Galiza, 60 pessoas exploram apenas 20 quilómetros sob regras apertadas em termos de fiscalização, que é paga pelas próprias confrarias. São estas estruturas que asseguram também o apoio à comercialização, sendo que os percebes ali capturados são depois vendidos em Barcelona, Madrid e Valência, locais com grande poder de compra.

O encontro entre mariscadores galegos e portugueses que ontem terminou decorreu ao longo de quatro dias e contou com o apoio do município de Odemira.

Fonte: Diário de Notícias em 13.10.2007

Congresso Nacional de Turismo e Ambiente 2010 Turismo em Zonas Costeiras 24 – 26 Novembro 2010 Sesimbra


Organizado pelo Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa em parceria com a Câmara Municipal de Sesimbra

Temáticas

- Importância do turismo na socioeconómico
- O papel do turismo na divulgação da cultura e tradições das comunidades piscatórias
- Sustentabilidade do sector turístico
- Impacto ambiental nas zonas costeiras
- Gestão sustentável do turismo na orla costeira
- Eco-eficiência em empreendimentos hoteleiros
- Turismo rural, pesca-turismo e eco-turismo
- Novos produtos no sector do turismo: inovação e desenvolvimento

Para além destes temas, pretende-se ainda debater alguns aspectos de natureza regional:

- A cultura piscatória de Sesimbra
- O artesanato e a pesca em Sesimbra: oportunidade de valorização turística
- Produtos regionais de Sesimbra

Informações:

E-mail: cnta2010@fc.ul.pt
Website: http://cnta2010.fc.ul.pthttp://cnta2010.fc.ul.pt/>
Telefone: 21 750 00 00 (ext. 22542) / 21 750 08 26

Pequenas grandes pescas

A propósito da entrada Férias x Portaria n.º 143/2009 de 5 de Fevereiro surgiram vários comentários de opinião, aos seus intervenientes deixo o meu agradecimento, entretanto através do PDF, http://www.ciemar.uevora.pt/divul/A10.pdf enviado por um leitor deste blog, um estudo de 2 anos (1994 - 1996) de autoria de João J. Castro (Biólogo marinho, Pólo de Sines da Universidade de Évora), com a seguinte redacção:

Artigo para o Jornal “Sudoeste”

Título: Pequenas grandes pescas
Autor: João J. Castro (Biólogo marinho, Pólo de Sines da Universidade de Évora)
Texto: É normal falar-se de pequena pesca quando se trata da que é feita a bordo de pequenas embarcações, geralmente de convés aberto e equipadas com motores pouco potentes. Tendo estas embarcações um pequeno alcance, e sendo-lhes permitido, por lei, afastar-se pouco da costa, este tipo de pesca é, também, chamado local.

Ora, pretendo falar-vos aqui de uma pesca ainda mais pequena, pois raramente são nela usadas embarcações, e ainda mais local, pois nem sequer se afasta da costa, apesar de continuar a ser marinha. Trata-se da que é feita com os pés assentes em terra e, na maioria das vezes, na zona das marés de litorais rochosos. Neste caso, são geralmente escolhidos os dias de marés ou de águas vivas, em que a amplitude da maré é maior. Não se levam para esta pesca redes de emalhar nem de cerco, e raramente se utilizam aparelhos de anzol ou covos. Geralmente, leva-se um bicheiro, um xalavar e um balde, mas também se pode levar uma cana com linha e anzol, uma arrelhada, uma faca ou, simplesmente, um saco, para guardar o que se consegue apanhar com as mãos.

E o que se apanha são polvos, percebes, peixes, caranguejos, ouriços, lapas, mexilhões, caramujos e burriés. Destas presas, umas também se capturam na tal pequena pesca, ou pesca local. Continuando este jogo das diferenças, a pesca ainda mais pequena e ainda mais local, chamemos-lhe, por exemplo, a micro-pesca, não é objecto de qualquer controlo legal, exceptuando casos pontuais, como certas áreas protegidas ou portuárias. Isto é, pode-se micro-pescar em qualquer lado, da maneira que se quiser e quando assim for, e o que se apanha pode ser vendido em qualquer sítio e a qualquer preço, sem qualquer imposto ou obrigação fiscal. As diferenças são óbvias, tendo em conta que a tal pequena pesca faz parte da pesca dita comercial, que é sujeita a diversos regulamentos, tanto nas operações de captura, como nas de compra e venda.

Até aqui, tudo estaria bem, se não fossemos falar com as pessoas que fazem estas pescas. Se o fizermos, o coro de descontentamentos é geral, o que varia é a explicação: “cada vez se pesca menos e com menores tamanhos”, “não se sabe onde isto vai parar”, “isto não tem futuro para ninguém”, etc.. Quanto às explicações: “a culpa é dessas redes todas postas mesmo à borda d’água”, “se não houvesse esgotos e navios a poluir...”, “estas leis feitas em gabinetes...”, “colhe-se e não se semeia”, “cada vez anda mais gente à maré”, “apanham-se polvos que quase não se vêem”, etc...

E é este o panorama actual, mesmo na pesca comercial, sujeita a inúmeros regulamentos, supostamente feitos com base em inúmeros estudos científicos, e dependente de inúmeras decisões políticas, que têm pesado inúmeros factores biológicos, sociais e económicos. Se é assim nesta regulamentada e controlada actividade, não nos podemos admirar com o que acontece com a tal micro-pesca, para as quais estas preocupações têm as costas voltadas.

O problema é que as costas estão tão voltadas, que nem sequer se sabe o que está a acontecer, para além das queixas dos intervenientes. Com efeito, não existem quaisquer estatísticas desta micro-pesca, nem sequer se tem uma ideia da sua importância sócio-económica.

Movidos por esta ausência de informação, iniciámos em 1994 um programa de estudo sobre estas actividades de exploração de recursos vivos da zona das marés. Numa análise dos primeiros resultados, obtidos durante dois anos consecutivos, pudemos constatar que estas actividades são intensas na costa alentejana, e que a sua importância relativa é comparável à da referida pesca comercial, podendo mesmo ser maior. Com efeito, obtivemos valores globais médios de 3 a 14 toneladas por quilómetro quadrado, e por ano, de peixe e marisco capturado na zona de marés do litoral rochoso alentejano. Com base no pescado descarregado nas lotas alentejanas entre 1990 e 1997, a respectiva taxa de exploração da pesca comercial é de cerca de 5.5 toneladas por quilómetro quadrado e por ano.

Esta micro-pesca é, afinal, uma pequena grande pesca, que deveria ser alvo de maior atenção, tendo em conta a sua importância. Apesar de ser tradicional e tipicamente desenvolvida como passatempo ou recreação, contribui para a subsistência de muitas pessoas residentes nesta região, tanto em termos de consumo alimentar directo, como de complemento económico.
Não havendo qualquer controlo e gestão destas actividades, e tendo em conta o aparente decréscimo das capturas e o aumento do esforço de exploração, é urgente a aplicação de medidas de conservação que permitam a utilização sustentável destes recursos. Estas medidas deverão envolver a aplicação e revisão da legislação existente, no âmbito de um programa global de conservação e gestão integrada da zona costeira.

Neste enquadramento, a criação de reservas marinhas pode dar um importante contributo, não só recuperando populações exploradas ou perturbadas mas, também, desenvolvendo o turismo, a recreação, a ciência e a educação, e constituindo uma referência para a implementação de um programa mais vasto de conservação do meio marinho.

Na nossa costa, a existência do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, com uma faixa marinha de dois quilómetros em toda a sua extensão, é uma oportunidade que não deveria ser desperdiçada para a implementação de tais programas de conservação.
De qualquer modo, está nas mãos de todos nós a protecção do meio marinho, não só para que se possa continuar a pescar mariscos e peixes mas, também, para que a beleza e a riqueza deste meio possam continuar a ser apreciadas por muitos e muitos anos.

Golfinhos e Tartarugas, dão à costa no Litoral Alentejano



Embora o número de ocorrências se tenha registado mais na Região do Algarve, no Litoral Alentejano também se vão registando cadáveres destes animais marinhos que dão à costa devido ás correntes marinhas e marés.



Duas espécies marinhas, Golfinho e Tartaruga que deram à costa no Litoral Alentejano.


Fotos cedidas por Carlos Lázaro, o meu agradecimento.

Jornada com o Ricardo Silva


Tudo começou com uma semana sensivelmente de antecedência, o amigo Ricardo Silva deslocou-se até ao Litoral Alentejano para um fim de semana com amigos, mas lembrou-se de que se calhar seria melhor tentar uma "sargalhada", falamos e ficou combinado.

Na sexta os últimos retoques, e sábado estava já ali, seis da manhã para um café estimulante para abrir a pestana...

Passados alguns km o Ricardo lembrou-se do que não podia faltar, (não foi falta de aviso), a licença de pesca lúdica, há que fazer uns vinte e poucos km ou tirar uma nova, e assim foi, uma licença nova (que acabou por não ser estreada, mas pelo sim pelo não, foi melhor).

Chegada ao pesqueiro que ele não sabia, não conhecia, mas ficou a conhecer...

Prancha de bodyboard e falésia abaixo, o material levei eu, uns oito quilos de sardinha e um quilo de camarão, nada fresco porque não são esquisitos comem mesmo do congelado.


Como chegamos ainda cedo ao local tivemos de aguardar a maré, faltavam quatro horas para o baixa mar, vi umas boas águas oxigenadas e foi logo ali o teste (sabia que não daria nada de vulto) e não deu, mas podia ter dado um peixe diferente (robalo) daqueles que seriam mais tarde o nosso alvo (sargos), mas nada só toques de pequenos alevins...

Passado uma hora e pouco estava dado o mote para o inicio da travessia parcialmente oceânica, nada de grave pois o mar aparentava uma queda naquela hora que já tinha passado, lá fomos nós mar a dentro.

A subida para a pedra foi tranquila tal e qual como lhe tinha dito.

Vamos começar...

Peguei em algumas sardinhas e comecei a piza-las com o ferro, engodo aguado, queria coloca-los junto ás pedras e não afastados, e assim foi, o binómio (+- sardinha +- camarão) resolveu o problema da equação proposta por mim, queria proporcionar um dia diferente ao Ricardo se os "amigos" colaborassem, a primeira vez que coloquei a isca na água perdi um bom peixe, mas depois começaram a sair...

Engodando aqui, pescávamos no mesmo local, depois, engodando ali lá íamos os dois e sempre com exemplares ferrados, apesar de muitos se terem solto (bons peixes), ainda montamos um Oceanário num buraco na rocha com um robalo, duas safias, três "choupas" e umas boas dezenas de sargos...

Ricardo vamos mudar de pesqueiro, quando olho para ele tinha a cana desmontada... Não vamos sair daqui vamos lá a frente, começaram a sair sargos de bom lote em pouco mais de dois palmos de água.

Na viragem da maré é que tudo se complicou...


...eram ás centenas nos estrados de pedra submersos pela pequena vaga que à medida que ia subida a amplitude do enchente começava a mostrar a actividade marisqueira destas humildes criaturas, chamei-o, Ricardo olha para aquilo...

Era demais, mas estava na hora de sairmos para terra, não por causa da maré, muito pelo contrario, tinham começado a entrar sargos de porte XL e para não me entusiasmar, acabei com o resto do engodo e camarão, depois de ter tirado alguns dessa bitola.

Comentava com ele, que se permanecêssemos em cima daquele locais mais uma hora no máximo, com mais algum engodo apanharíamos os que quiséssemos, mas saímos, contentes com a pescaria, com a manhã e com a calma e boa disposição de dois amigos.

Bem haja dias assim.


Infelizmente uma nota de infelicidade para a cana do Ricardo, para o ultimo elemento, mais propriamente a ponteira que não sobreviveu a esta jornada e terminou a sua etapa já no fim da jornada, como já vem a ser hábito nele...

;)

Grande abraço Sr. Silva

Nota: Como a máquina fotográfica anfíbia, deixou de o ser por terras/mares Açoreanos, não houve hipótese de fotos "in loco", mas a experiência daquele dia ficará gravada na nossa memória.


Técnicas: Chumbadinha
Cana: Titanus Power Strike - Barros
Carreto: Regal 40 - Vega
Isco: Camarão
Engodo: Sardinha
Peso: 16 Kg aproximadamente