O presidente da Câmara de Aljezur classificou a proposta de revisão do Plano de Ordenamento do Parque Natural da Costa Vicentina de «eco-patetice», antevendo a possibilidade de tumultos sociais por parte da população mais atingida, nomeadamente pescadores e agricultores, informou a Agência Lusa.
«A pesca desportiva já gerou algum tumulto e as pessoas que se preocupam com a pesca são exactamente as que se preocupam com este plano, os agricultores, as pessoas que vivem junto do mar, as pessoas que nunca pediram nada e que só querem que lhes deixem fazer a vida como fazem há gerações», observou Manuel Marreiros (PS).
O autarca recordou as manifestações que juntaram cerca de três mil pescadores lúdicos em Sagres, em Fevereiro, e em Odemira, a 14 de Março, para mostrar a reacção da população a uma lei que mexeu com os seus hábitos de vida.
Na proposta de revisão do Plano de Ordenamento do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, o princípio é o mesmo: «querem impor-nos um modo de vida, mas o modo de vida que temos aqui foi o que deu origem ao parque», referiu.
O lote de medidas e restrições propostas pelo Instituto para a Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) levam-no a classificar a revisão do plano como «uma eco-patetice, uma presunção de protecção da natureza, que, na verdade, só contribui para o abandono do espaço. E o espaço abandonado é um espaço que se vai degradar», disse ainda.
O autarca criticou, de resto, a acção do ICNB, nomeadamente a ausência de políticas e instrumentos de educação ambiental, a fraca intervenção no território e a falta de recursos.
«Desde 88, que esta zona é área protegida e está mais degradada porquê?», questiona, citando o relatório sobre a conservação de habitats da Rede Natura 2000 que aponta as áreas dunares como as mais degradadas.
«São áreas onde não se faz agricultura, não se constroem casas, não há empreendimentos turísticos e não há pecuária... é simplesmente o parque que não intervém».
Nos casos em que o ICNB interveio, como nas praias de Monte Clérigo e da Carrapateira, «chegou à conclusão que não tinha dinheiro suficiente para as obras e tivemos nós [Câmara] que comparticipar metade das intervenções», recordou.
«A única actividade do ICNB que conhecemos é dar pareceres», comentou ainda, para concluir que «o parque natural só serve para os meninos da cidade virem para aqui ao fim-de-semana ler o Expresso num jipe, no meio das dunas».
Contactada pela Lusa, fonte do ICNB afirmou que para já não vai tecer qualquer comentário às acusações do autarca de Aljezur.
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