Os percebeiros e a mariscagem


É considerado um dos melhores e mais saborosos crustáceos que habitam as nossas zonas intertidais de falésia. Facilmente se encontram escondidos entre fendas nas falésias ou em grandes áreas onde a sua fixação por colónia assim o permite, normalmente são encontrados também na faixa intertidal onde os grandes bancos de mexilhão se fixam, coabitando entre eles.


Fixam-se criteriosamente em locais de difícil acesso estando a sua acessibilidade marcada por percursos sinuosos, onde o mar ganha mais força no vai vem da ondulação e a sua alimentação por filtragem se torna bastante mais facilitada, onde o avanço das marés lhe trazem as partículas e a oxigenação indispensável ao seu desenvolvimento. É nesta fase das marés que estão mais protegidos da apanha, mas não de uma forma completa, uma vez que a sua captura pode ser feita através de mergulho livre. É também nesta fase que o seu "inimigo público marinho nº 1" aparece em cima dos lavadiços onde se encontram aquando da maré cheia e se alimentam deles com o auxilio da força da ondulação, falo como é óbvio dos sargos, esse exímio mariscador.


Basicamente as diferentes fases das marés marcam e ditam a sua vida, já que aquando das marés vivas (marés de grande amplitude) ficam mais expostos e vulneráveis à apanha através do mariscagem, já as marés mortas (marés de pouca amplitude), protegem-nos dessa actividade, uma vez que a zona intertidal é bastante mais reduzida. As Preia mar favorece também a sua reprodução, uma vez que quando submersos esse acto torna-se bastante mais fácil.


Nas zonas litorais onde se desenvolvem, existe a pratica tradicional da mariscagem, onde os mariscadores munidos de um fato isotérmico, que proporciona bom conforto em termos de temperatura corporal e de salvaguarda de danos físicos em caso de pequenos toques em pedras, a arrilhada ou faca de mariscar, com a qual é retirado este crustáceo do substrato onde está fixado, de uma pequena bolsa onde guardam o resultado da apanha e de uma saca ou saco de rede onde guardam o produto final.


Normalmente juntam-se em pequenos grupos, apelidados de pinhas, que podem ser mais ou menos numerosos consoante as caracteristas da sua localização. Podem estar revestidos com algas na sua unha, o que lhes confere uma camuflagem considerada quer ao seu predador humano, como ao seu predador natural, o sargo.


A actividade de mariscar, é sem duvida perigosa, mesmo para os mais conhecedores do mar, embora salvaguardem esses riscos com a sua experiência de longas horas no mar, enfrentando variadíssimas condições adversas e bem distintas. É claro que a apanha desde crustáceo não se faz apenas com mares mais calmos e sem correntes, e que procura este marisco em zonas mais perigosas, acha sempre grandes pinhas de tamanho considerável o que aumenta o risco.

Definir a arte de mariscar por poucas palavras é extremamente fácil quando empregamos as palavras Risco, Adrenalina, Aventura ou Perigo.


De forma a evitar um declino desta espécie os mariscadores que actualmente se dedicam e tem o exclusivo da apanha para fins comerciais deveriam ter em atenção o tamanho e os locais onde se dedicam à apanha de forma a eles próprios terem a consciência da sustentabilidade do recurso, tendo em atenção a rotatividade da apanha nos diversos locais onde fazem a mariscagem.


Após a apanha aqueles mariscadores que não fazem a selecção dos tamanhos dos perceves na altura da apanha, fazem uma pausa para escolherem o marisco, retirarem os mexilhões, os perceves mais pequenos e os limos dos maiores exemplares.

Esta pratica pode efectivamente criar uma hipótese de salvação para esses seres mais pequenos seleccionados, uma vez que poderão ficar presos em fendas nas rochas e ai se desenvolverem criando outras colónias. Muitos acabarão por morrer devido à desidratação ou eventualmente, poderão servir de alimento a sargos ou safias, que aquando da maré baixa deambulam na oxigenação justamente à procura de algum alimento que venha da superfície levado pela força da enchente.



Muitos mariscadores recorrem de pranchas ou de barcos para acederem a pedras ilhadas que estão relativamente afastadas da linha de costa para procurarem lá estes crustáceos. Quando é utilizada uma embarcação deverá ficar no seu interior alguém para que auxilie a recolha do pessoal que se dedica à apanha, isto claro está quando se verifique condições de mar com alguma adversidade.


Munido da "arrilhada" um mariscador prepara-se para aceder a uma pedra ilhada através de uma embarcação, facilitando o desgaste físico que sem duvida em costas de enormes falésias é bastante acrescido.

Este crustáceo tem o seu período de defeso de 15 de Setembro até 15 de Dezembro.


Segue-se um comentário que foi colocado por DC, e que pela explicação mais cientifica entendi coloca-lo aqui.

"Apenas os juvenis de percebe têm capacidade de deslocação, essa capacidade é-lhes fundamental quando na altura do recrutamento larvar assentam nos percebes adultos.

A fixação dos juvenis realiza-se maioritariamente e preferencialmente sobre o pedúnculo dos percebes adultos (utilizado como substrato primário), depois desta fixação os juvenis iniciam uma lenta migração até à base do pedúnculo do adulto para então se fixarem ao substrato definitivo (ou secundário).

Esta locomoção consiste em projectar o tecido da base do seu pedúnculo na direcção pretendida. Após um período de tempo que pode mediar entre duas semanas a dois meses, os juvenis alcançam a base do pedúnculo do adulto ao qual se fixaram e fixam-se então ao substrato rochoso (se o houver disponível), perdendo nessa altura a capacidade de deslocação.

Quando perdem esta capacidade de deslocação, a glândula de "cimento" que possuem, que lhes permite fixarem-se nos sítios mais difíceis em termos de hidrodinamismo, atinge o seu máximo desenvolvimento, fixando-os definitivamente a um dos dois substratos onde pode viver, ou outro percebe ou a rocha.

Na grande maioria das pinhas apenas uma parte dos percebes adultos está fixa na rocha, os restantes encontram-se lá por migração e crescimento, não por fixação secundária.

Uma vez destacados da rocha e fora de água, e em boas condições de preservação, aguentam vivos cerca de 4 dias.

Em aquário, em condições semelhantes às naturais (por transposição de uma rocha já com percebes fixados) já se conseguiu a sua reprodução (cópula), mas as larvas apesar de viáveis inicialmente, não se passaram as fases larvares necessárias até à fixação por não existirem no aquário as condições ideais (que ainda se desconhecem) à sua metamorfose."

Agradecimento pelo contributo a DC

12 comentários:

Anónimo disse...

Uma vez destacados da rocha ou de outros percebes, estes crustáceos não conseguem fixar-se novamente ao substrato, pelo que não sobrevivem. Deste modo, a prática de seleccionar o percebe logo após a apanha em nada contribui para a preservação da espécie.


Mário Pinho

Fernando Encarnação disse...

Viva Mário Pinho.

Desde já obrigado pelo comentário.

Não concordo com essa afirmação, isto é, se forem descolados de outros perceves ou do substrato, poderão nem que com pouca % de êxito se entalar com outros ou ficar numa greta ou fenda e ai se desenvolverem, claro está que se forem massacrados na unha ou no pedúnculo (corpo do perceve). Digo isto porque já os apanhei em gretas onde estavam entalados com outros perceves sem estarem fixados ao substrato. Como é óbvio isto acontece a uma pequena percentagem e não à totalidade.

Não afirmei que a selecção do perceve contribuía para a preservação da espécie, e se o dei a entender aqui está a explicação.

Cumprimentos.

PêJotaFixe disse...

Amigo Sargus,
A seleção dos perceves começa quando se "crava" a arrilhada na pinha. Se só três ou quatros perceves é que têm o tamanho minimo para serem apanhados, então deverão ser esses os selecionados e não toda a pinha. Caso alguns com tamanho inferior venham agarrados, deverão ser retirados ainda no local de forma a fornecer alimento a outras espécies maritimas evitando também que se transporte um peso excessivo.

Abraço e saudações piscatórias

Fernando Encarnação disse...

Boas Paulo,

A selecção dos perceves começa quando se olha para uma pinha antes de a colher, deverá ser visto quais os perceves a serem colhidos, e verificar qual a melhor maneira de o fazer sem danificar os outros. Pois uma pinha corta acabara por morrer mesmo agarrada ao substrato.

A selecção a meu ver deve ser feita no local, e não em casa, para alem de se jogar o resultado da selecção fora (pequenos e mexilhões) acabará por deixar um cheiro nauseabundo em alturas de calor nos contentores do lixo como já presenciei.

Abraço e obrigado pelo comentário.

Anónimo disse...

Caro Fernando,

Sinceramente não acredito que sses percebes destacados da rocha que depois ficam entalados entre outros tenham alguma hipótese de sobrevivência. Durante quanto tempo é que eles conseguirão resistir às investidas do mar ? Não muito, certamente.

Cumprimentos,
Mário Pinho

Fernando Encarnação disse...

Viva Mário,

sem ficarem em perfeitas condições porque não terão hipótese de sobrevivência? Se ficarem em gretas o mar não os tira de lá, pois nem sempre está bravo, mas isso é uma hipótese, não é lei.

Volto a dizer que já os apanhei destacados da rocha.

Cumprimentos

PêJotaFixe disse...

Amigo Sargus,
É só para assinalar que o defeso dos perceves começa hoje dia 15 de Setembro.

Abraço e saudações piscatórias

N.R. Claro que a seleção começa quando olhamos para a pinha mas o mais importante é não "levar tudo a direito" quando se "cava" mas saber "cravar" a arrilhada na pinha, de maneira a retirar só os selecionados.

Fernando Encarnação disse...

Viva Paulo, obrigado por me relembrares dessa nota que faltava no post.

Abraço

Anónimo disse...

Apenas os juvenis de percebe têm capacidade de deslocação, essa capacidade é-lhes fundamental quando na altura do recrutamento larvar assentam nos percebes adultos. A fixação dos juvenis realiza-se maioritariamente e preferencialmente sobre o pedúnculo dos percebes adultos (utilizado como substrato primário), depois desta fixação os juvenis iniciam uma lenta migração até à base do pedúnculo do adulto para então se fixarem ao substrato definitivo (ou secundário). Esta locomoção consiste em projectar o tecido da base do seu pedúnculo na direcção pretendida. Após um período de tempo que pode mediar entre duas semanas a dois meses, os juvenis alcançam a base do pedúnculo do adulto ao qual se fixaram e fixam-se então ao substrato rochoso (se o houver disponível), perdendo nessa altura a capacidade de deslocação. Quando perdem esta capacidade de deslocação, a glândula de "cimento" que possuem, que lhes permite fixarem-se nos sítios mais difíceis em termos de hidrodinamismo, atinge o seu máximo desenvolvimento, fixando-os definitivamente a um dos dois substratos onde pode viver, ou outro percebe ou a rocha. Na grande maioria das pinhas apenas uma parte dos percebes adultos está fixa na rocha, os restantes encontram-se lá por migração e crescimento, não por fixação secundária. Uma vez destacados da rocha e fora de água, e em boas condições de preservação, aguentam vivos cerca de 4 dias. Em aquário, em condições semelhantes às naturais (por transposição de uma rocha já com percebes fixados) já se conseguiu a sua reprodução (cópula), mas as larvas apesar de viáveis inicialmente, não se passaram as fases larvares necessárias até à fixação por não existirem no aquário as condições ideais (que ainda se desconhecem) à sua metamorfose.
DC

Fernando Encarnação disse...

DC

Obrigado pelo seu contributo numa vertente mais cientifica.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Boas,

Alguém me sabe dizer quanto tempo demora um percebe a crescer desde o seu nascimento até estar com um bom tamanho (grossura do polegar) ?

Obrigado

Fernando Encarnação disse...

Boas Miguel, tens aqui dois links;

http://www.rdpc.uevora.pt/handle/10174/11214

http://www.researchgate.net/publication/258364858_Distribuio_e_abundncia_do_percebe_Pollicipes_pollicipes_(Gmelin_1790)_na_Reserva_Natural_das_Berlengas_relao_com_o_hidrodinamismo_e_efeitos_da_predao

No 2º link fala do estudo de crecimento dos pollicipes, espero ter ajudado.

Cumprimentos,

Fernando Encarnação