Desaparecimento, pressão ou migração?


Muitas são as ideias, teorias, simples opiniões ou puras especulações, o que é certo é que existe um número concreto de espécies que tem vindo a desaparecer, pelo menos com maior frequência do que era habito ou normalidade.

Será que essas mesmas espécies se habituaram dentro da evolução das próprias espécies, as variações do clima e condições dos oceanos?

Observei um artigo numa revista à já algum tempo que previa que devido ao aquecimento do planeta, os horizontes de certas espécies se fossem abrindo e outros se fechando, por exemplo a linha do equador, ponto central do planeta, a partir daí, quer para o hemisfério norte e sul, ambos devido ao aquecimento de alguns graus, certas espécies teriam por lógica aumentado o seu território.

Não é muito difícil imaginarmos daqui a alguns anos espécies do continente africano circularem pelo Algarve, tais como insectos ou espécies marinhas, se é que estas não “patrulham” já a nossa costa sul…

Será que a caminhada no hemisfério norte está iniciada por espécies que outrora frequentavam as nossas costas, em busca de temperaturas bem mais frescas, abandonando estas mesmas áreas?

O aparecimento da lagosta por esta zona (sudoeste alentejano) tem sido algo que apesar de ocorrer em anos transactos, não tem ocorrido com tamanha a frequência como este ano, este crustáceo frequenta águas mais quentes.

Se motivado em parte por alguma poluição, as laminárias que em tempos eram como marés verdes na altura da época balnear, desapareceu por completo desta área, (sudoeste alentejano), tomou o seu lugar alga do tipo vermelha, parecida com “pompons” e uma outra espécie também vermelha com pouco formato.


Os fundos da zona intertidal estão praticamente desertos de vegetação com excepção das referidas, o que terá originado este desaparecimento?

Será que para alem da “dita” pressão nos recursos não poderemos acusar significativamente as alterações climatéricas de alguma transformação no desaparecimento de algumas espécies e aparecimento de outras.

Se deixaram de existir notícias de relatos de aparecimento de anchovas por esta zona (eram frequentes), por sinal as salemas, bogas, cavalas e espécies afins poderão ter tido uma explosão demográfica e são realmente as mais frequentes em qualquer contacto visual submerso.

É claro que nem tudo é um mar de rosas no oceano e poderá ter-se iniciado a marcha da "Arca de Noé" mais para norte, onde as águas são mais frias, onde ainda existem variadíssimas espécies de algas que dão abrigo e alimento a inúmeras espécies no seu ciclo de vida, onde a poluição possa não exercer um motivo de afastamento da fauna e flora…

Quem sabe, fica a ideia.

13 comentários:

Anónimo disse...

Há 50 anos, já havia lagostas nas
aguas frias - por ex.º Póvoa de Varzim - e lagostas de águas mornas - por ex.º de Moçambique e de Cabo Verde.
Por aqui nada de estranho, as oriundas das águas frias maravilhosas e as da água quente nem por isso.

Quanto aos fundos desertos de vegetação, acho que devem perguntar à pesca de arrasto, ou estarei enganado?
Cumprimentos.
Lúcio Fonseca

Anónimo disse...

De lagosta percebo pouco...só de comer...e poucas!!!:(
Em relação aos fundos desertos de vegetação, não deveria isso sim ser alvo de estudo e procuradas medidas minimizassem o problema? Ou será mais fácil dizer que é a pesca lúdica???JQ.

Fernando Encarnação disse...

Boas Lúcio Fonseca.

Sim nada de estranho sobre essa questão da lagosta, apenas referi isso pelo simples facto de este ano haver muitas, sendo que nos anos anteriores nem por isso.

Os fundos desertos de vegetação poderão estar relacionados com a questão do arrasto.

Mas e os litorais, as zonas entre mares, talvez mais com a poluição ou alterações de temperatura e aguagens...

Abraço.

António Matos disse...

Visível ao olho do mais despreocupado. A falta de vegetação de laminarias será um dos motivos apontados para a diminuição de peixe na nossa costa, por acaso ainda não vi nenhum estudo que relacione o desaparecimento dessa vegetação com o aquecimento, lembro-me que após o acidente de Sines gradualmente as laminarias desapareceram coincidência ou não?
abraço

Fernando Encarnação disse...

Viva António Matos.

Este fds por incrível que parece e após ter entrado na água para ir fazer uma caçada submarina, deparei-me com algo que não imaginava, os fundos começam a estar cheios de laminárias, algo se passa...

É incrivel como de um momento para o outro todo aquele deserto que era um facto se transformou num verde claro de flora marinha.

Grande abraço.

Anónimo disse...

Mas alguém tem dúvidas?

O facto constatado por Sargus dá muita alegria a todos penso eu.

Mas os fundamentalistas do PNSACV (ICNB) e do MAOTDR já tardam, a meu ver, em reivindicar esta alteração como consequência de haverem posto esses malandros da pesca lúdica em sentido, pois obviamente , são (foram) os causadores destas desgraças...

Cumprimentos.
Abel Lacerda

Anónimo disse...

As causas do desaparecimento das laminárias ainda não são conhecidas, mas há indícios de que possam estar relacionadas com os compostos químicos utilizados para inibir a fixação e o desenvolvimento de organismos marinhos nos cascos das embarcações. Estes compostos são misturados geralmente na tinta que é empregada no casco (tintas antivegetativas). São produtos tóxicos para a vida marinha, e que e podem entrar na cadeia alimentar.

Consequentemente, a Organização Marítima Internacional baniu a aplicação de tintas antivegetativas com compostos químicos nocivos em todo o tipo de embarcações a partir de 2003 e proíbe a sua utilização a partir de 2008. Devido ao seu longo tempo de vida no ambiente, os efeitos nocivos daqueles compostos irão perdurar certamente nos próximos anos.

Cumprimentos,
Mário Pinho

António Simões disse...

Caro Fernando,
Pertinente esta questão e interessante. Encurtando o raciocinio ,está demonstrado que aguas quentes não são oceanos de vida mas desertos de vida com alguns oasis de vida.Um aumento de 1 a dois graus será catastrofico para a fauna e flora dos ecossistemas tão frageis equatoriais e meridionais.
O aparecimento, desaparecimento de flora em alguns locais, não se mede só pela acção do Homem,(apanha de algas, arrasto comercial)mas pelos niveis de alcalinidade, salinidade, nutrientes do meio em questão. A falta de anchovas,robalos diminuição de predadores em geral, espécimes mais procurados comercialmente pelo homem, abriram brechas nos ciclos da cadeia alimentar. Menos predadores , mais comedia, especimes não caçadas.Se fosse só pela acção da natureza , ela em alguns anos regularia todo o sistema, mas..não..já nos chegam todos os disparates e atrocidades que diariamente nos atropelam pelos "média", a pesca ilegal,excessiva,a poluição, a matança de espécimes em vias de extinção, o aquecimento global,a desertificação de mares interiores.A aquicultura sem controle,em ecossistemas sensiveis.O excesso de nitratos na agua pelas monoculturas, etc etc.etc.
As coisas mudaram ,estão a mudar e não chegamos a conclusão alguma. Certezas!?? Nenhuma, apenas que algo de estranho observamos nos ciclos de vida marinha que habitualmente conhecemos desde miudos ligados ao mar. Apenas duvidas, muitas duvidas...

Um abraço do Norte
António Simões

Fernando Encarnação disse...

Viva Abel Lacerda.

De facto fiquei bastante contente ao ver os pequenos golfos espalhados pela área onde mergulhei, golfo é abrigo, esconderijo, alimento, vida...

Mas os fundamentalistas do PNSACV (ICNB) e do MAOTDR tem de ser metidos em sentido! Quer pelo que fizerem, como pelo que não fizeram, responsabilizados e culpados pelas tristezas que são responsáveis e pela falta de profissionalismo e dialogo que tem vindo a demonstrar.

Quando a portaria 143 e 144 saíram foi algo que não podia esperar nem mais um minuto, temos de colocar os pescadores lúdicos em sentido diziam eles.

É vergonhoso como após 2 anos sensivelmente de elaboração do PO Ria Formosa ainda nada tenha saído, claro esta o interesse de privados está acima do interesse público e do interesse de preservação ambiental e dos recursos, claro está que existem variados projectos turisticos a sairem lá para aqueles lados e por isso não colocam o raio do Plano em vigor.

Que grande ICNB e MAOTDR!!!

Grande abraço.

Fernando Encarnação disse...

Viva Mário Pinho.

Esse facto e os químicos que deram nas tubagens submersas do Porto de Sines para matar a vegetação pode ser um dos muitos factores, ou apenas especulações até que apareça algum estudo que comprove algo de concreto vamos especulando...

Cumprimentos.

Fernando Encarnação disse...

Carissimo António Simões.

Sim é uma questão pertinente e problemática, o aumento da temperatura aumenta o risco para algumas espécies que abandonam esses locais para locais mais frios, e dá origem ao aparecimento de outras espécies ou explosão de outras por desaparecimento dos predadores.

È claro que existem muitos indicadores que nos poderão levar rapidamente a conclusões mais ou menos cientificas, mas estudos não existem ou se calhar não interessam existirem...

"Apenas que algo de estranho observamos nos ciclos de vida marinha que habitualmente conhecemos desde miúdos ligados ao mar. Apenas duvidas, muitas duvidas..."

Nem mais caro amigo, aqueles que há bastantes anos tem interacção com o mar poderão concluir muita coisa...

Um abraço do Sul e obrigado pelo contributo.

Fernando Encarnação disse...

Carissimo JQ.

Pois o eterno problema é mais fácil defender um lobby e encontrar soluções num grupo restrito do que enfrentar o problema de raiz...

Abraço.

Anónimo disse...

Nasci por aqui, mergulhei durante anos nestas águas, fiz caça submarina, aqui regressei de novo, onde vivo, e o desaparecimento das algas desta costa entristece-me. Não creio que o seu desaparecimento repentino se deva a qualquer ligeira mudança de temperatura, mas à agricultura intensiva (erbicidas, pesticidas) que passou a fazer-se nestas charnecas irrigadas pelo Sistema de Rega do Mira e que drenam directamente para o mar, facto que há muito deveria ter sido averiguado pelas autoridades do Parque, dada a sua gravidade. Trata-se da destruição de um nicho trófico, com tudo o que isso representa na respectiva cadeia.
Esperemos que estas autoridades passem a debruçar-se sobre o que importa, o que tarda a acontecer.
Pedro C