Tarifas ameaçam liderança na energia das ondas


Cerimónia. O ministro da Economia vai hoje ao Porto inaugurar oficialmente o primeiro parque de energia das ondas a funcionar comercialmente em todo o mundo. O projecto é tido como muito importante para o País, mas a viabilidade financeira do mesmo ainda está por provar.

Quando hoje proceder à inauguração oficial do primeiro parque de energia das ondas a produzir comercialmente a nível mundial, o ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho, poderá estar a avalizar um projecto - pioneiro e de grande importância para o País - que, segundo os seus promotores, não tem ainda garantida a viabilidade económica. Em declarações proferidas há pouco mais de um ano, responsáveis do projecto afirmavam que esta forma de produção de energia eléctrica, a qual foi apoiada por fundos públicos, tem uma tarifa garantida que está 20% a 50% abaixo do limiar da viabilidade económica. Desde então, segundo apurou o DN, nada mudou.

A energia das ondas é cara mas, em termos estratégicos, deverá fazer parte do "mix" de energias renováveis que permitirá ao País atingir o nível de substituição de combustíveis fósseis a que se propôs. Para se ter uma ideia, a tarifa que paga o sobre custo da produção de energia das ondas é de 245 euros por megawatt/hora, a qual é cerca de 250% mais alta do que a garantida para a energia eólica e apenas 60% da que é paga aos produtores de energia fotovoltaica. Estas tarifas constam de decreto-lei e são, obviamente, decididas pelo Governo.

O primeiro destes geradores de 750 kilowatts (kw) foi instalado ao largo da praia da Aguçadoura (Póvoa de Varzim) no passado dia 15 de Julho. Dos três previstos para este projecto pioneiro, o segundo foi para o mar em finais de Agosto e o terceiro aguarda só a apresentação pública que hoje será efectuada, na presença do ministro, no Porto de Leixões, para se juntar aos outros dois. Um dos responsáveis disse ao DN que a nova central energética tem funcionado de "forma intermitente", mas quando está operacional "produz electricidade e vende à rede".

A potência instalada será de 2,25 megawatts (MW), pouco mais do que a produzida por um único aerogerador (energia eólica), havendo alguns da nova geração que até já têm mais capacidade. Não é - por isso e para já - pelo interesse económico que este projecto conta. Mas não é isso o mais importante. Quando foram apresentados publicamente, em Maio de 2006, as estruturas Pelamis (nome por que são conhecidos os geradores) prometiam ser apenas o início de um cluster de energia das ondas, que poderia tornar Portugal no principal abastecedor de um mercado que se estimava, então, que valesse 325 mil milhões de euros, quase duas vezes o actual PIB.

O problema é que, com os atrasos já verificados - o projecto devia ter começado a funcionar no final de 2006 - e com a imergência de novos grupos económicos, a nível mundial, interessados neste tipo de energia, Portugal, que começou na frente e, apesar de tudo, aí permanece, corre o risco e ver fugir uma tecnologia em que teria condições para ser pioneiro. É que, na Europa, pode não haver lugar para dois.

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