Praias recuam 2 metros
As arribas arenosas do Algarve recuam, em média, 1,4 metros por ano, segundo um relatório sobre a Gestão do Litoral da Administração da Região Hidrográfica do Algarve (ARH-A). Está em causa um dos troços mais turísticos da região, entre Olhos d’Água (Albufeira) e Garrão (Loulé), que inclui Vale do Lobo. Os especialistas constataram que o Trafal registou um recuo médio anual de 84 centímetros, enquanto o Forte Novo atingiu 2,27 metros. No País, só existe uma erosão semelhante: em Pinheiro da Cruz (Grândola).
Para tentar minorar o problema, as praias mais afectadas vão ser alvo da maior operação de alimentação artificial já realizada no País: 8,6 milhões de euros para encher cinco quilómetros de praia, num total de 1,2 milhões de metros cúbicos de areia dragada do mar. O areal irá aumentar 40 metros de largura. Cinco praias de Albufeira, com uma extensão de dois quilómetros, também vão ser enchidas até ao Verão, num custo de quatro milhões de euros.
O Litoral algarvio de arribas arenosas não apresenta uma taxa de recuo homogénea. Em declarações ao CM, Alveirinho Dias, investigador da Faculdade de Ciências do Mar e do Ambiente da Universidade do Algarve e especialista em erosão costeira, refere que "entre Olhos d’Água e Vilamoura recua menos devido à protecção de molhes", verificando-se o maior impacto na zona entre Forte Novo e Garrão. Num estudo elaborado pelos investigadores Sérgio Oliveira, João Catalão, Célia Sousa e Alveirinho Dias é referido que "a faixa costeira entre Forte Novo e Garrão, a oriente de Quarteira, é um bom exemplo de um litoral de arribas sujeito a acentuada erosão", ampliada "pela construção de estruturas rígidas (molhes de entrada da Marina de Vilamoura e campo de esporões de Quarteira".
PRIVADOS PAGAM 70 POR CENTO
O concurso público da obra de enchimento das praias de Loulé foi lançado em Setembro. O investimento, de 8,6 milhões de euros,é suportado em 70 por cento pelo grupo Vale do Lobo, cabendo os restantes 30 por cento ao Estado.O prazo de execução da empreitada é de 182 dias, devendo estar concluída antes do pico do Verão de 2010. A praia de D. Ana, em Lagos, é outra das praias sujeitas a recarga de areia.
ARRIBAS ROCHOSAS SÃO RISCO
A praia Maria Luísa (Albufeira), onde morreram cinco pessoas no dia 21 de Agosto, tem arribas consideradas rochosas, características da zona mais barlaventina do Algarve. Neste tipo de formações, segundo o relatório sobre o acidente da Administração da Região Hidrográfica do Algarve (ARH-A), "as taxas médias de recuo não têm utilidade na avaliação do risco", dado que a sua evolução se "processa por uma sequência de movimentos de massa descontínua no espaço e no tempo". Segundo a ARH-A, nos últimos 14 anos registaram-se, em média, 14 movimentos por ano de massa nas arribas do Barlavento, dos quais cerca de metade têm largura maior ou igual a um metro.
"A SOLUÇÃO NÃO É DESTRUIR"
"Todas as arribas são perigosas, quer sejam rochosas ou não-consolidadas.A solução não passa por destruir este património, mas sim por responsabilizar os cidadãos", defende Alveirinho Dias, investigador da Faculdade de Ciências do Mar e do Ambiente da Universidade do Algarve. Nas zonas de praias concessionadas deverão ser feitas intervenções pontuais quando existir risco para os utentes, mas em zonas não-concessionadas "o cidadão deve estar por sua conta e risco", considera o especialista em erosão costeira.
QUEDAS SÃO IMPREVISÍVEIS
O tipo de ocorrência verificado na Maria Luísa "tem nível de previsibilidade muito baixo", não existindo "capacidade de prever quer a data da ocorrência, quer o local onde poderá ocorrer um fenómeno desta natureza, cujo nível de previsão é idêntico ao dos sismos". Segundo a ARH-A, a faixa de risco para o mar (espaço que deve ser guardado como distância de segurança) corresponde a uma vez e meia a altura da arriba – no caso de ser rochosa – e a um espaço igual ao da altura da arriba, se for arenosa.
DISCURSO DIRECTO
"NÍVEL DO MAR PODE SUBIR UM METRO": Filipe Duarte Santos Professor de Física na Univ. Lisboa
Correio da Manhã – Que risco representa o recuo das arribas arenosas no Algarve?
Filipe Duarte Santos – No Algarve existem diferentes tipos de arribas. As da costa sul são mais instáveis. Já as da costa oeste são mais resistentes. Mas é um facto que as arribas estão a recuar. É necessário monitorizá-las e demolir as que apresentam perigo.
– Em que zona costeira do País a situação é mais preocupante?
– Existem zonas mais vulneráveis do que outras. Se partirmos do Norte, a zona desde a Cortegaça atéà Barra de Aveiro tem um recuo da costa muito pronunciado. Assim como a zona desde a praia do Ancão até à foz do Guadiana, no Algarve.
– Porquê?
– A subida do nível do mar é um dos factores. No século passado, o nível do mar subiu cerca de 15 cm em Portugal. Actualmente sobe 3,5 mm por ano. Se este ritmo se mantivesse, subiria 35 cm neste século, mas a verdade é que está a aumentar. Até ao final do século calcula-se que o nível do mar possa subir 1 metro.
SAIBA MAIS
CUSTO DA SINALIZAÇÃO
A colocação de placas a alertar para os riscos das arribas custa um a dois euros por metro linear. As placas têm um tempo de vida de dois anos.
25 euros é o preço máximo por metro de rede a isolar zona de risco e dura de 5 a 10 anos.
300 euros é o custo máximo de desmonte de arribas, como o realizado na praia Maria Luísa, e reduzo risco por 10 a 50 anos.
COLOCAÇÃO DE AREIAS
A alimentação artificial atinge os 500 euros por metro e dura entre cinco e dez anos. A contenção das arriba custa cinco mil euros e tem uma ‘garantia’ de 25 a 50 anos.
NOTAS
CAPARICA: 22 MILHÕES DE EUROS
O reforço dos espigões e a alimentação artificial com areia das dunas da Costa de Caparica envolvem uma obra de 22 milhões de euros, que ficará pronta no próximo ano
VIGILÂNCIA: ARRIBAS DO OESTE
O Instituto da Água tem a trabalhar uma equipa de vigilância das arribas situadas no troço doLitoral entre a praia de São Pedro de Moel (Marinha Grande) e o limite sul do concelho de Mafra
LITORAL: 300 MILHÕES DE EUROS
O ministro do Ambiente, Francisco Nunes Correia, disponibilizou 300 milhões de euros para protecção da zona litoral dos distritos de Aveiro, Faro, Braga e Viana do Castelo
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