Mariscadores querem fiscalização para evitar apanha excessiva


Mariscadores de percebes queixaram-se hoje em Sines de falta de fiscalização da actividade, que faz com que exista apanha excessiva na costa portuguesa, comprometendo o futuro deste recurso e o sustento dos profissionais.

"Tem de aparecer o chicote, senão vamos dar cabo de tudo", afirmou António Bessone, representante da Associação Nacional de Mariscadores em Apneia e da Associação de Mariscadores das Berlengas. Segundo o dirigente, no arquipélago das Berlengas, realidade que melhor conhece, os mariscadores apanham mais percebes do que a quantidade permitida por lei e mesmo em altura de defeso, em que não se pode mariscar, apontando o dedo sobretudo aos apanhadores lúdicos.

António Bessone apelou a uma "simbiose" entre "todas as entidades" envolvidas no setor, desde as associações de mariscadores, à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), autoridades governamentais e Finanças, para "acabar com estes abusos todos". O profissional considerou que as autoridades portuguesas "não podem fazer mais com as condições que lhes dão" e apresentou o exemplo da vizinha Espanha, onde a Polícia Marítima está "bem equipada". 

"Se não houver união entre as entidades as reservas vão acabar", o que já está a acontecer na zona do cabo da Roca, onde "nem o mês de defeso é respeitado", alertou António Bessone. O responsável falava durante um debate sobre a apanha do percebe em Portugal, que decorreu esta tarde no Centro de Artes de Sines, evento no qual foram apresentados os resultados de um estudo promovido pela Universidade de Évora.

A perceção de que existe apanha excessiva e fiscalização insuficiente foram dois dos resultados da investigação, com base em mais de 100 inquéritos efetuados a apanhadores de percebes profissionais da Reserva Natural das Berlengas, da costa centro (entre os cabos Carvoeiro e Raso) e do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV).

Outras conclusões apontam para a desvalorização económica do percebe nos últimos cinco anos, atribuída à crise económica, e ao incumprimento da legislação, mais frequente no centro de Portugal.

Os mariscadores do PNSACV revelaram-se os mais insatisfeitos com algumas regras específicas da sua zona, como os três meses de defeso que têm de cumprir, enquanto a nível nacional está estabelecido apenas um. 
O presidente da Associação de Marisqueiros de Vila do Bispo, Paulo Barata, corroborou os resultados do estudo, ao lamentar as diferenças na legislação a nível nacional e exigir que associações de profissionais e autoridades governamentais se reúnam para debater o problema. No PNSACV, após os três meses de defeso, entre 15 de setembro e 15 de dezembro, os mariscadores estão "mais três meses sem trabalhar", pois "metade dos restaurantes está fechada", ou acabam por vender os percebes "a três euros [o quilo] na lota", explicou.

A "cogestão", em que a gestão da atividade é feita em parceria pelas entidades públicas e as associações de profissionais, nomeadamente na área da fiscalização, foi um dos caminhos apontados para o futuro da apanha do percebe em Portugal, onde existem cerca de 460 mariscadores licenciados.

Fonte: Noticiasaominuto

1 comentário:

Fernando Encarnação disse...

Depois não se queixem, mas como quem não deve não teme...