Para que serve a preservação quando não houver mais nada a preservar?


Há umas dezenas de anos atrás existia uma faixa litoral quase desertificada, com pouca acção do homem, sem trilhos nas zonas dunares, sem lixo, com uma acentuada explosão de espécies diversas de fauna e flora, não existia agricultura intensiva, não existia autoridades, as praias eram frequentadas, outras estavam desertas, podíamos praticar o campismo selvagem e a viver em plena harmonia com a natureza, faziam-se fogueiras na praia onde nos reuníamos com os amigos em paz e falávamos em coisas banais, não havia repressão, problemas ambientais, negras estatísticas sobre o declinio das espécies, sobre o declinio do homem...


Actualmente tudo mudou, numa questão de décadas o que era a "ilha deserta" de plenos recursos alterou-se consideravelmente, existe uma crescente afluência às faixas litorais, o turismo e os grandes empreendimentos estão a transformar o que era natural num maciço de betão, as zonas estão a deixar de ser protegidas para começarem a ficar desprotegidas, com bastante influência do homem a diversos níveis, uns mais problemáticos que outros, o lixo que se acumula devido à falta de civismo e crescente influência exercida por locais que antes eram pouco ou nada frequentados, a diminuição a olhos vistos da diversidade de espécies marinhas e terrestres, a fauna e flora sofrem uma pressão insustentável que está a limitar a sua multiplicação, mas fundamentalmente está a acabar com a diversidade de umas espécies em prol de outras. Muita coisa tem sido feita em termos de legislação, mas parece que sem frutos, apenas com o intuito de cobrar coimas e taxas, pois em termos de revitalização, defesa das espécies pouco ou nada se faz, daí a situação quase incontrolável que deparamos no momento.


É pertinente pensarmos que antes não existia normas e regras e as coisas funcionavam plenamente, actualmente com o conjunto de normas e regras não se verifica isso, sem bem que são necessárias.


É um sonho pensarmos que antes existia a lei da sobrevivência, onde retirávamos do mar e da terra a nossa subsistência e matérias primas, não tínhamos problemas de ruído, de Áreas Protegidas, taxas e coimas, desastres ambientais, perigos de declínio de espécies, PDM`s, etc, não existiam grandes super-petroleiros e gigantescas traineiras que ultra congelam o pescado, não existiam alterações genéticas de espécies, existia sim uma rida e saudável dieta que o mar a a terra nos proporcionavam.

O ideal seria o homem aproveitar as capacidades de uma interacção sustentável com as espécies e meio ambiente, regras que permitam a convivência e interacção pacifica e não o contrário, chegamos a um ponto que qualquer acção que tomemos implicará uma relação boa ou má com o que nos rodeia, com o meio que nos rodeia.


Um dia chegaremos a um ponto sem retorno se continuarmos a interagir da forma como temos feito nos últimos anos, sem pensar "Para que serve a preservação quando não há mais nada a preservar?"

10 comentários:

Anónimo disse...

Pois é fernando, cabe a todos nós fazer o maximo que podemos por manter aquilo que encontramos,se nos preocuparmos nem que seja a deixar as coisas como as encotnramos já é uma ajuda muito importante.
Mas infelizmente ha quem não ligue a nada.

Força amigo, o teu trabalho e dedicação não tem valor ;)
Obrigado

Miguel Coucello

Fernando Encarnação disse...

Viva Miguel,
Cabe à consciência de cada um saber o que quer para o futuro a médio e longo prazo, antes que seja tarde demais.

Ainda existe uma esperança, o titulo da entrada esta colocado numa forma irónica.

Todos nós teremos de fazer o maximo que podemos ou conseguirmos.

Mas infelizmente ha quem não ligue a nada, dificilmente se interesse ou minimamente se importe com a actualidade da situação.

Obrigado Miguel pelo comentário.

Grande abraço caro amigo.

Ricardo Silva disse...

Olá Fernando!

Sempre incansável nos alertas para as questões mais pertinentes do momento!

Como já disse aqui algumas vezes, na minha opinião esta problemática só terá uma solução sustentável através da educação, sobretudo nos primeiros ciclos. Por outro lado, tem de haver por parte do estado um forte incentivo às empresas e cidadãos no sentido de acabar de uma vez por todas com as dependências dos combustíveis fósseis, lobbies, etc.

Infelizmente não nos vejo a tomar bons rumos em termos de políticas de educação, ao contrário de outros países que já perceberam claramente para onde devem caminhar e estão já a "formatar" as gerações mais novas para o futuro.

Já nós... veja-se o que se passa no actual estado das relações governo/professores/alunos...

Ontem entreguei o IRS...

Por despesas de educação de 2 filhos, o estado Português ajuda-me com 350€/ano por cada filho... motivador!

As deduções das despesas com equipamentos novos e complementares para utilização de energias renováveis acumulam na mesma rubrica que as amortizações e juros de empréstimos para habitação própria e permanente.

Sabendo-se que a grande maioria dos Portugueses tem de recorrer a empréstimos para habitação, sabendo-se o estado do mercado de arrendamento, na prática o estado não incentiva nada através dos impostos para a utilização de energias renováveis uma vez que essa ajuda é "toda gasta" com as amortizações e juros dos referidos empréstimos... motivador!

Ainda assim, tenho muita esperança e este teu blog, mas sobretudo a tua postura, contribui muito para eu ter razões para essa esperança!

Grande Abraço!

Ricardo Silva

ZeNeR disse...

Concordo com o que escreveu.. E acho que tal como o seu colega Fernando Corvelo deviam usar os vossos textos do Mundo Da Pesca para dizer`aos pescadores que devolvão as suas capturas. Não só as pequenas mas tambem as grandes porque sem reprodutores acaba-se a festa.

O Outro Fernando já vi que não vale a pena...É um caso perdido.
Espero que vosse proceda melhor e escreva nos seus artigos algo que leve os pescadores a preservar.
Se continuarmos todos a dizer que preservar é que é mas ninguem preservar na realidade não sairemos da sepa torta!

CUmprimentos, ZeNeR

S. Ferreira disse...

Pois é Fernando.

Tens o privilégio de viver perto de uma das zonas mais bonitas e emblemáticas de Portugal. As fotos que congelam esses magníficos cenários e os ricos textos, fazem com que o teu cantinho em termos qualitativos seja do melhor que existe em Portugal. Nada a dizer a esse respeito.
Perguntei a mim próprio, quanto tempo mais iria resistir essa zona, à devastação que começa a fazer-se sentir na quase totalidade do nosso litoral. Pois bem, não conseguirá manter-se virgem por muitos mais anos. À conta do poder político corrupto, e fortes grupos económicos, tudo começa a ser devorado de modo irremediável. Já se iniciou na costa alentejana, e na costa Algarvia só as ilhas barreira permanecem relativamente à margem da devastação. Garanto-te que mais cedo ou mais tarde, as populações residentes serão afastadas por associações ambientalistas ou departamentos do governo, para mais tarde se colocarem resorts ou aldeamentos de luxo nestes locais. O vulgar cidadão verá a sua entrada recusada através da imposição de parqueamentos absurdos ou de simples proibição.
Se a isto acrescentarmos a proibição crescente de pescar em muitos lugares, qualquer dia, só nos restará pescar em frente de um computador, utilizando para tal um programa informático.

Não acredito num futuro risonho!

Uma abraço e continua com o teu excelente testemunho,

Fernando Encarnação disse...

Viva Ricardo,

Nunca é demais falar sobre a sustentabilidade das coisas, partindo do civismo, compreensão e educação, das classes mais novas, porque acho que principalmente serão elas as que mais irão sofrer com o avançado estado das coisas, serão elas, uma vez alertadas e sensibilizadas que farão a sua "guerra" conjunta e bem distinta alertando, lutando e tentando conservar estas formas de vida que dão a beleza natural a um local.

A "Formatação" das gerações mais novas, é na minha humilde opinião o caminho a seguir, muito conscientemente, mas existe a crescente problemática da conjuntura de um país que está mal e doente a muitos níveis, será que se preocupam com a sustentabilidade e preservação da biodiversidade? Ou as crescentes politicas de expansão de zonas turisticas (MODEL ALLGARVE) serão o caminho a seguir?

Claramente não! Não queremos isso, nem poderemos compactuar com isso.

"Ainda assim, tenho muita esperança e este teu blog, mas sobretudo a tua postura, contribui muito para eu ter razões para essa esperança!"

gostaria muito, e tento contribuir na medida que me é possivel, para tentar sensibilizar para estes pontos.

Desde já o meu agradecimento pela tua participação continua e debate de ideias sobre estas matérias, é de facto bastante motivador ouvir um eco nestes assuntos.

Grande Abraço caro Amigo!

Fernando Encarnação disse...

Viva ZeNeR,

O meu agradecimento pelo comentário desde já.

O meu amigo Fernando Corvelo é um pescador, como eu e como tantos outros, que se preocupa com a sustentabilidade, disso não tenho duvidas.

"...sem reprodutores acaba-se a festa...", caro amigo 100% de acordo, mas será que somos nós pescadores lúdicos que exercemos a maior carga nos recursos?

Para alem de nós esta um conjunto de pontos problemáticos responsáveis pela grande recessão dos recursos está a pesca profissional, as alterações climáticas, a poluíção, os atentados ambientais, a agricultura intensiva nas faixas litorais com a utilização de produtos quimicos que contaminam os lençóis friáticos que desaguam no mar, as políticas tomadas pelos Governos que até agora não tem ligado a nada nesta matéria, etc, etc.

"Se continuarmos todos a dizer que preservar é que é mas ninguem preservar na realidade não sairemos da sepa torta!"

É uma verdade absoluta, mas terá de partir da consciência de cada um alertar e agir sobre esta problematica de preservação da biodiversidade.

Caro amigo ZeNeR, é um prazer falar sobre esta problemática e vou tentar alertar mais e melhor sobre ela.

Grande abraço e obrigado pelo seu contributo.

Luís Duarte disse...

Fernando, infelizmente como sabes quem manda não pensaassim.

Fernando Encarnação disse...

Viva Caro amigo Sérgio,

Tens razão no que afirmas, infelizmente os lobbys tem crescido considerávelmente, temos um bom exemplo em Setubal/Troia, onde em plena zona de Parque Natural continua a existir uma Secil, em pleno estuário onde é o lar de uma comunidade de Golfinhos, unica no pais tens uma Fabrica de pasta de papel, agora uma construção de marina Turistica e um enorme polo de atração turistica nos empreendimentos em Tróia, vemos claramente que o interesse de lobbys sobrepõe-se ao da preservação e sustentabilidade das espécies, qualidade de vida de pessoas e ambiente, que podemos fazer???

Também não acredito num futuro risonho, muito menos sustentável, o Homem tem por norma autodestruir-se a ele a a tudo o que o envolve em prol da evolução, mas que evolução...

A evolução do extreminio da biodiversidade, das condições da qualidade de vida, da vida...

Sérgio o meu agradecimento pelo teu contributo no debate desta problemática, é muito bom trocarmos idéias e testemunhos sobre esta problemática, pode ser que mais alguem se interesse por ela.

Grande abraço caro amigo Sérgio.

Fernando Encarnação disse...

Viva caro amigo Luís,

Infelizmente sei claramente que as coisas não são como se falam, e que nesta matéria muita coisa há a fazer, muitas mentalidades a alterar, muitas políticas a rever...

É como dizes, quem manda não pensa assim...

Esse talvez seja o maior problema...

Abraço caro amigo Luís, vamos tentando viver ainda com alguma dignidade na nossa zona, mas já nos começam a colocar grandes muros de dificil acesso...