A pesca ao tento


A pesca do tento é uma adaptação da pesca à francesa que normalmente se pratica em águas interiores para o mar, com a excepção, da não utilização dos elásticos na ponteira das canas, e ao invés da utilização dos mesmos, neste tipo de pesca, ou melhor nesta variante, a mesma é caracterizada em primeiro lugar pela utilização de canas telescópicas sem passadores e sem carreto, prendendo-se apenas o fio de pesca na extremidade da cana. Basicamente a linha (baixada) que é presa da ponteira e calibrada com pouco peso apenas para permitir que a isca afunde com mais facilidade. A montagem da baixada não deve ser do comprimento da mesma, uma vez que ao ferrarmos um peixe razoável o peso do mesmo vai trabalhar pela acção parabólica da cana, como tal, vamos ter alguma dificuldade em levantar o peixe e para não termos dificuldades em situações destas o ideal é utilizar uma baixada com um pouco menos meio metro que o tamanho da cana aproximadamente para facilitar a retirada do peixe da água.


Este tipo de pesca pode ser efectuado normalmente com canas de tamanhos entre os seis e os nove metros (máximo), uma cana de sete ou oito metros serão dos tamanhos mais indicados e versáteis e já proporcionam boas sensações. A pesca do tento é habitualmente apelidada de pesca fina, pelo elevado grau de sensibilidade ao toque do peixe pela acção directa desta variante de pesca, temos a capacidade de conseguir grandes performances na ferragem de peixe e na exacta colocação da isca na água, buracos nas rochas, lavadiços e rebolos, em suma se as mesmas forem ricas em marisco tanto melhor, já que teremos mais probabilidades do peixe estar habituado a ir mariscar com a maré no enchente.



Como é uma técnica de pesca que necessitamos de uma cana com uma boa acção, dada a necessidade de “medir forças” entre o pescador e o peixe, teremos de ter em atenção a qualidade razoável da cana, o que actualmente e com a tecnologia de hoje em dia temos á disposição no mercado de óptimas varas rijas, semi-rijas e leves com acção parabólica. Quanto ao fio utilizado neste tipo de pesca teremos de ter em atenção a qualidade e a medida do fio a utilizar na laçada directa, que anda pelos 0,28 a 0,33 mm, mono filamento com alguma transparência, embora estas medidas pareçam um pouco elevadas efectivamente não o são, uma vez que os pesqueiros escolhidos deverão ter bastante oxigenação de água. Consoante o tipo de pesqueiro, espécie de peixe a capturar, cor da água e a experiência do pescador ditarão a escolha do fio, são estas as condicionantes que permitam bons resultados nas jornadas de pesca.
Outro dos factores essenciais neste tipo de pesca é não usarmos roupas muito claras e não nos aproximarmos muito da água, isto é não nos devemos dar a ver ao peixe que supostamente já entrou no pesqueiro e anda a comer o engodo. Pela proximidade da água a que este tipo de pesca obriga devemos ter em conta também o estado do mar e as condições mínimas de segurança, quer na correcta observação das condições de mar, se o mesmo tiver riscas de espuma perto da rocha e/ou metidas ao mar, são indicações que ele está falso, o que normalmente acontece nos meses de Inverno, devemos estar sempre com atenção ao mar.



O calçado é também muito importante pois normalmente os locais indicados para este tipo de pesca são zonas predominantes de limo e podemos escorregar. Este tipo de pesca é executado com o mar manso ou de pequena vaga, muito mar prejudica o trabalhar do engodo e as correntes levam o mesmo para fora o que origina a que o peixe muitas das vezes o acompanhe se a cadencia da engodagem não for uniforme. A fixação do fio já vem facilitada na maioria das canas, pois muitas delas quando são concebidas, é-lhes introduzido um arame de aço na ponteira do elemento em forma de argola onde poderemos prender o fio, para o caso de canas que não trazem este tipo de acabamento teremos de optar, ou por comprar uma "forra" em plástico, que por sua vez é colada á ponteira do elemento, esse pequeno plástico já vem desenhado para que ao colocarmos a laçada do fio este fique fixo ou da boa maneira "tradicional" tipo desenrrasca, consiste da mesma forma que se empata um anzol, fazer o mesmo nó na ponteira do elemento e deixar uns 15 cm de fio (usado para fazer a ligação das redes de pesca á corda das bóias) para o fixar ao estralho, por intermédio de uma laçada.


Assim, uma cana de 7 m (as mais utilizadas) terá um fio com cerca de 6,5 m / 6,8 m, em cuja extremidade terá o anzol. Para lastro usa-se uma oliva (chumbinho furado, ou de aperto) de cerca de 3 a 5 gramas, que dependendo do tipo de pesca, mais fundo ou menos fundo, será escolhido. É de salientar que a pouca gramagem utilizada tem a função de colocar a isca a afundar ligeiramente na água e com a experiência adquirida poderemos controlar a mesma profundidade levantando a cana na posição vertical.
Como não podia deixar de ser, os resultados deste tipo de pesca melhoram significativamente com a utilização de engodo, sardinha sem duvida que me atrevo a dizer que é o supra sumo dos engodos poderemos utilizar o engodo á mão, o melhor na minha opinião chama peixe sempre mais grado, e o engodo moído, que tem um maior poder e chama tudo e peixe mais pequeno. As capturas mais vulgares nesta vertente de pesca são, sargos, douradas, robalos, safias, burros, tainhas, salemas, viúvas, peixe-porco, carapaus, cavalas as mais frequentes na nossa costa, particularmente tenho um “fraquinho” por os sargos.
Para finalizar pode-se dizer em suma que todas as iscas poderão ser utilizadas neste tipo de pesca são a sardinha, camarão, algas, amêijoa, mexilhão, caracol do mar, caranguejo, cracas, ralos, tiagem, percebe, ouriço, todo o tipo de minhocas, lula, lingueirão, lapa.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sargus,

Desta forma simples pretendo dar-lhe os parabéns pelo seu artigo. Fala-nos da técnica que utiliza com a mestria alicerçada na experiência da pesca ao tento. Acredito que deva viver momentos de emoção única, quando a ponteira sensível das suas canas se dobra de tal maneira que parece que vai partir pela tentativa desesperada que o peixe de bom porte efectua para se libertar..., uma espécie de luta titânica entre duas forças da Natureza..., o deus-homem e o deus-peixe. Uma vez mais, fiquei com a vontade de viver essa experiência... um dia talvez, viva também a emoção de lutar com uma dourada de 3/4 Kg, ou um sargo daqueles que chamamos "um autêntica chapa", ou um robalo que pareça um verdadeiro torpedo...

Parabéns.

jfcorreia

Fernando Encarnação disse...

Carsissimo fjcorreia, desede já o meu agradecimento pelo comentário.

As suas palavras são de facto de quem reconheçe nesta técnica a verdadeira essência, não somente o iscar, ferrar e rebocar (à boa maneira quando utilizamos um carreto), mas sim a escolha do pesqueiro, os engodos, a ligeireza e optimização de uma forma de "lutar" com o peixe, quando não podemos ter o minimo erro. No fundo aqui existe a história da pesca, os nossos amigos dos quais ascendemos, começaram sem duvida por aqui, quando a belo dia se aperceberam que a pesca era uma forma de subsistência, e que para minimizar danos ou riscos teriam de utilizar instrumentos.

As autênticas chapas são as mais comuns (bom porte) que se podem encontrar, a pura sensação de ouvir o monofilamente a chiar na água pela força que alguns fazem em água mais aberta, á outra das sensações unicas desta técnica, o vergar da cana, o ter o cuidade de tentar desde o 1º segundo não deixar encabeçar o peixe...

Um misto de sensações que o recomendo vivamente um dia a experimentar.

Abraço e uma vez mais obrigado.