A despedida


Muito motivado pelo estado do mar, que durante toda a semana não passou de ondulação de metro, a nossa espécie alvo, não apareceu mais junto à costa, tendo as tentativas resultado na captura de alguns sargos a alguns elementos do grupo. No final da semana, já em fase de despedida foram efectuadas algumas capturas após o almoço, fase em que nos abastecemos com alguma energia extra (chipirones, pulpo, tortilla e estrella galicia), sendo que após consulta das previsões o mar estaria a subir neste período, sendo que foi verificado na parte da manha alguma força de fundo. Seguimos então em três grupos, um para casa, outro para norte e outro para sul. Sul era coincidente com uma zona próxima ao local onde três dias antes tinha efectuado a captura dos sargos de bom porte na caça sub, e nesse mesmo dia tinha observado o local afastado ao qual apelidei como o "pesqueiro das cabras", pela acessibilidade que o mesmo proporcionava, e lá fomos nós.

O vento sul trazia chuvisco e assim que saímos do carro fomos brindados durante a hora e meia que estivemos à pesca. Na primeira investida pescamos alto, engodando para uma entrada de agua onde efectuo a primeira captura e perco mais dois bons exemplares, um por ir à pedra e outro por se soltar. Como não gosto de pescar muito afastado da linha de agua, tomo a iniciativa de levar uma dúzia de sardinhas e camarões num saco plástico de asas para próximo de agua, onde subo para cima de uma pedra a três metros de agua e fico em segurança.

Observo bem o local e inicio a engodagem numa zona de um balcão submerso, com boa acção de aguagem, mas nada de toques, fazia me confusão não existir ali um sargo... Vou insistindo na engodagem mas a maré já baixava, e começo a ver parte das cabeças da sardinha (que uso para verificar onde corre o engodo quando não tenho gaivotas no local), e o mesmo enrolava no pesqueiro e parte começou a sair por uma pequena greta com dois palmos de largura e uns três metros de comprimento, com provavelmente um metro de fundo, e foi ai que coloquei um camarão. A primeira sensação que tive foi imediata, uma ferragem brutal que me vergou a Sorento tendo ficado logo ferrado um bom exemplar não fosse o azar de ter corrido demais na primeira investida e partido pelo fio ter tocado na pedra.


Empato novo anzol, à medida que a luminosidade diminuía, mais uma sardinha para a agua e coloco a montagem no mesmo local, foi instantâneo, mais um bom exemplar, desta vez veio, foram capturados mais alguns e perdidos outros até que ferro um bicharoco daqueles que procuro à alguns anos, uma luta bruta, puxa ele, puxo eu e lá o consigo colocar à supreficie, e agora? O meu colega estava noutra zona, sem me ver ou ouvir, o local onde estava não tinha acesso à linha de agua, o peixe era grande demais para o levantar à força, estar a dar fio para ter uma trabalheira já quase de noite por causa de um peixe colocando me em risco num local de difícil acesso, não. vou tentar reboca-lo rocha acima mas não conseguia, fui tentar puxar a "tábua" e fiquei com o mono filamento na mão, paciência, valeu a luta e a adrenalina, mereceu pois foi superior, uma tábua, são daqueles exemplares que ainda mexem connosco, que ficam na memória, antes deixavam me triste, agora contente pois existirem e ainda darem um ar de sua graça.


Teria mais uns quinze minutos de pesca, antes do "dead line" para fazer a subida da falésia até depois da zona critica ainda com alguma visibilidade, e começo a engodar o resto das sardinhas que tinha para aquele local, o mar ganhava força, descasco uns dez camarões e começo a tentar novamente pensando que já nada la estaria. Assim que coloco a montagem perto do local da luta ferro outro, mais uma investida, boa luta mas nada comparado com o seu antecessor, em cima de agua vejo um belo sargo, mais pequeno mas vou tentar rebocar este e consigo ao longo da pedra lisa coloca-lo a meus pés, com um golpe de misericórdia acabo com a sua vida de imediato, não tinha local para colocar o peixe apenas um saco plástico de asas com elementos da mesma espécie. 


A montagem volta à agua e outro ainda maior, o mesmo sistema e saco. Decido que acabava ali a jornada, não ia arriscar mais quase de noite sem lente, estava na hora. Tive de despir o impermeável para fazer um saco pois o saco que tinha não ia aguentar a viagem até ao carro. 

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