Arrábida: 100 embarcações em protesto

As populações mereçem
mais respeito

Cerca de cem embarcações oriundas de Setúbal, Sesimbra e Arrábida reuniram-se esta manhã no Portinho da Arrábida em protesto contra o regulamento do Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida (POPNA).

Com buzinas, faixas e bandeiras pretas, os representantes da pesca profissional, federações desportivas, clubes navais, empresas náuticas e utentes protestaram contra aquilo que consideram ser um conjunto de “medidas disparatadas”, sempre perante o olhar atento de duas lanchas da Polícia Marítima. Mais do que soluções, exigem a revisão do POPNA, pois defendem que sem ela não será possível a existência de actividades comerciais e turísticas sustentáveis.

Diogo Tamen conheceu a Arrábida quando ainda nem sabia falar. Hoje, aos 47 anos, ergue a voz para lutar pela preservação e segurança do local que o viu crescer. “A minha família está ligada à Arrábida há um século. Há 47 anos que estou cá e custa-me assistir de braços cruzados ao continuado desgaste da costa, sem qualquer sentido. Ninguém sabe os resultados da implementação do POPNA. Que resultados teve? Quanto custou? Serviu para quê? Serviu para prejudicar os pescadores de pequeno porte”, afirmou.

Para este adepto da náutica de recreio e sócio do Clube Náutico da Arrábida, o objectivo deste “desfile náutico” é simples. “Queremos chamar a atenção para o resultado das medidas tomadas ao abrigo do POPNA e que se tenha em conta os reais interesses das pessoas que aqui vivem. Para além disso, queremos chamar a atenção para os atentados ambientais que continuam a ser feitos através da extracção de pedra, da indústria cimenteira, de papel e os esgotos. As praias são metade daquilo que eram. Não é a pesca de pequeno porte que dá cabo destes recursos. É a pesca profissional, com os arrastões. Isto dantes estava carregado de santolas. Agora é raríssimo. Este ano só vi duas. Em contrapartida, houve um aumento de tainhas que foi uma coisa extraordinária, que é normalmente um peixe associado à poluição”.

Contudo, a contestação não se esgota no mar. O Parque Natural da Arrábida apresenta vários problemas de acessibilidade, estacionamento, com ausência de zonas pedonais e de acesso a pessoas com mobilidade reduzida, assim como poluição. “O ano passado um miúdo pequeno partiu a cabeça. Para subir a rua e ir buscar o carro demorei muito tempo e para descer foi um problema”, garantiu Isabel Tamen, participante na iniciativa de protesto. Ainda assim, existe um problema mais grave, sobre o qual não foi tomada qualquer medida e que já se arrasta há cerca de 8 anos: as matilhas de cães vadios que destroem a fauna local e constituem um perigo para a integridade da população. “As crianças brincavam de casa em casa. Hoje em dia já não podem porque aparecem matilhas de cães sobre os quais não se tem controlo. É assustador”.

Com maior poder de mobilização. Sesimbra juntou-se ao protesto com o lema “Sesimbra merece melhor. Não a este parque marítimo.

Lino Correia, presidente do Clube Náutico de Sesimbra, garante que esta é uma chamada de atenção “para o mau senso deste regulamento que está contra as pessoas e contra o ambiente”. “Quatro anos depois desta resolução, existe menos algas, menos areia e menos peixe”. Os pescadores são ainda assolados com multas. “Só no fim de semana passado foram 15 multas têm sido as multas. É muito difícil de cumprir o regulamento. Em terra temos uma vedação para marcar o terreno. E no mar, como é que o fazemos? As pessoas podem entrar em incumprimento sem querer ou por questões de segurança e a Polícia Marítima não leva isso em conta”.

Um dos problemas mais visíveis e graves do Portinho da Arrábida é o assoreamento. O que há uns anos se afigurava como o maior areal da costa da Arrábida está hoje reduzido a uma língua de areia. “Nós viemos com um metro de água de profundidade. O assoreamento é um problema grave e ninguém faz nada. As pessoas gostam de ganhar dinheiro, fazer estudos e consultadorias em como semear plantas no fundo do mar”, afirmou Lino Correia. Iremos continuar a lutar. No dia 27 de Setembro os sócios do Clube Naval de Sesimbra irão saber escolher. Não vamos esquecer quem está contra nós”.

Para Augusto Pólvora, presidente da Câmara de Sesimbra, “é bom recordar que este regulamento foi aprovado há 4 anos, quando tinha entrado um Governo com maioria absoluta, arrogante, em estado de graça”. Segundo o autarca, “houve um excesso prejudicial a Sesimbra, que é o porto de pesca mais importante do país ao nível de descargas. Temos 200 pessoas a pescar no parque marítimo. Houve uma redução porque as embarcações com sete metros já não podem lá pescar. Foram prometidos apoios, criação de soluções que de alguma forma pudessem colmatar estas imposições e criar vantagens, e até hoje nada foi feito”.

Apesar de a organização ter ficado satisfeita com a adesão ao protesto, muitos foram os pescadores que não marcaram presença. Do Portinho da Arrábida apenas 3 barcos participaram na iniciativa, fruto do medo de possíveis represálias ou retaliações. “ Para os pescadores, isto é o ganha pão. Eles têm receio, medo porque sentem que a sua vida não se coaduna com o estar em protesto. Tem medo de serem penalizados directa ou indirectamente”, afirmou Augusto Pólvora.

Fonte:
Correio da Manhã

3 comentários:

Anónimo disse...

“Quatro anos depois desta resolução, existe menos algas, menos areia e menos peixe”.

Caro Fernando,

Não é verdade. Tenho feito alguns mergulhos na zona de Sesimbra e constatado que há mais peixe do que há quatro anos atrás. A frequência com que se observam exemplares de bom porte, nomeadamente sargos, também é maior.

Abraço,
Mário Pinho

Anónimo disse...

Portanto, 100 embarcações são, pelo menos, 100 pescadores a dizer o contrário do Sr. Mario Pinto.

Eles dizem que quem estraga a pesca são os arrastões.

Em que ficamos?

Será só uma questão de falta de ar?

Esteves Ribeiro

Anónimo disse...

Para sua informação, sr. Esteves Ribeiro, a maioria das embarcações presentes no protesto não tinha nada a ver com a pesca. Eram simplesmente barcos de recreio.

E qual é admiração de haver mais peixe nos dias de hoje do que há quatro anos atrás se o POPNA impôs limitações e interdições tanto à pesca lúdica como à profissional ? O contrário é que seria de estranhar. Ou não será assim?

Cumprimentos,
Mário Pinho