Chuchas de Ovas de Ouriços do Mar


O ouriço-do-mar é um equinoderme, similar ás estrelas-do-mar e aos pepinos-do-mar. Alimenta-se de outros invertebrados mas é nas algas que encontra nos fundos rochosos que faz a base da sua alimentação, com os seus cinco dentes (olho), localizados na superfície central inferior do corpo.
Não dispõe de visão mas o seu corpo está coberto por células sensíveis à luz.
Estes dentes formam um bico que estão interligados através de ossículos e músculos chamado de Lanterna de Aristóteles.
Estes espécie movem-se com a ajuda de pés ambulacrários, perfeitamente, não a uma velocidade rápida mas se os colocarmos numa posição ao fim de alguns minotos reparamos que se começa a movimentar lentamente.
O seu esqueleto duro e coberto de espinhos não é suficiente para os proteger de alguns caranguejos, estrelas-do-mar e peixes nomeadamente os Sargos e Douradas que vêem neles um autêntico manjar dos Deuses.

Nome: Ouriço-do-mar
Nome Científico: Paracentrotus lividus
Família: Echinidae
Grupo: Estrelas, ouriços e pepinos -do-mar
Classe: Invertebrados
Tamanho: 11-25 cm

O ouriço é uma espécie que normalmente entra em ovulação (formação de ovas) entre meados de Novembro até Fevereiro (altura onde as ovas deixam de estar maduras e começam a ficar leitosas = maturidade).
É normal nesta altura (Carnaval), as populações de faixas litorais ocorrerem ás zonas rochosas de baías onde o ouriços constituem autenticas colónias, onde são/eram (portaria 868/2006 limita a 2 kg por individuo), capturados para o petisco das ovas, quer cozidas, em omeletes ou assadas.

É também muito normal e da "praxe" aos "sargueiros" da "bordanada" dos mares mais mexidos e águas tapadas, que procuram autênticos troféus de sargos de kg para cima chegando a obter capturas de exemplares com mais de 2.5 kg, e se forem os bicais poderão facilmente chegar aos 3 kg.


Para isso existe a chucha de ouriço, isca tradicional que é elaborada com alguma paciência por nós, desde a captura, em marés vivas de lua cheia (as que maior amplitude tem, onde são apanhados manualmente com a utilização de luvas anti-corte ou com um auxilio de camaroeiro, gancho ou pau.

Convém deixa-los de um dia para o outro em lugar fresco e longe do sol, para que escorram a maioria da água que trazem no seu interior, de modo a que as ovas fiquem mais rijas, desta forma até se pode iscar perfeitamente um anzol e pescar ao tento.

Ora com as ovas mais rijas e com consistência basta uma colher de sobremesa para conceder uma chucha.


Normalmente tenho um procedimento para a elaboração das iscas que passa por este processo:

- Apanha;
- Um dia/horas para escorrer;
- Abertura dos ouriços com uma luva anti-corte e faca;
- Separação das ovas (unicamente) para dentro de um recipiente;
- Corte de 6 cm x 6 cm de meia de vidro;
- Corte de linha de costura (1 palmo);
- Corte de 12/15 cm x 12/15 cm de papel de alumínio;
- Preparação/concepção das chuchas;
- Acabamento final;
- Acondicionamento num "taparuer" já enrolados/protegidos pela prata;
- Congelamento;

Apanha: Consiste no aproveitamento de Novembro a Fevereiro das melhores marés em termos de amplitude, uma vez que os maiores ouriços estão sempre no limite das maiores mares. Pode ser utilizado um pau, luvas anti-corte ou de cabedal, camaroeiro, gancho ou até mesmo uma foice.

Um dia/horas para escorrer: Depois da apanha convêm retirar a maior percentagem de água existente no interior do ouriço, uma vez que a mesma só irá causar um grau de liquidez excessivo, não muito prejudicial, mas relativamente inferior a nível de qualidade de isco. Algumas horas são suficientes para que os ouriços percam grande percentagem de água pelo processo de escorrimento ou desidratação.

Abertura dos ouriços com uma luva anti-corte e faca: É uma maneira extremamente fácil de os abrir, uma luva anti corte na mão esquerda e com o auxilio de uma faca na mão direita, onde no local do olho (dentes) do ouriço colocamos a faca e com a precisão pratica os abrimos com um simples toque lateral.


Separação das ovas (unicamente) para dentro de um recipiente: Ao abrimos um ouriço iremos deparar com os gomos de ovas, cinco no total, onde entre eles estão localizados os intestinos que estão carregados de algas moídas (a sua dieta do dia-a-dia). Deve ser retirado apenas as ovas, embora haja quem coloque os intestinos /algas. Devemos retirar as ovas para dentro de um recipiente, local que servirá para gradualmente retirar ainda alguma percentagem de água que se vai acumulando na base da matéria prima (ova).



Corte de 6 cm x 6 cm de meia de vidro: É uma medida que nos dá uma perfeita manobra de trabalho para fazer a chucha.


Corte de linha de costura (1 palmo): É a medida para depois do enrolar da ova em forma de bola na meia de vidro, servirá para atar a base da ova com algumas voltas e dois nós duplos.



Corte de 12/15 cm x 12/15 cm de papel de alumínio: Servirá para separar e congelar as chuchas, uma vez que o alumínio conserva e protege, quer do gelo, como também do processo de congelação em bloco de varias chuchas. Assim ficaremos claramente com um número de ovas a ser gasto ou utilizado sem que tenhamos de descongelar pelo total.

Preparação/concepção das chuchas: Basicamente, consiste na colocação de uma colher de sobremesa por 6 cm x 6 cm de meia de vidro, onde começaremos por unir os cantos e depois enrolar e atar com a linha de costura.


Acabamento final: Depois de confeccionada a chucha será necessário cortar o excedente de meia de vidro e pontas de linha, onde ficaremos apenas com a chucha pronta a ser colocada num anzol nº 1/0 ou 2/0.



Acondicionamento num "taparuer" já enrolados/protegidos pela prata: Melhor acondicionamento e melhor duração/conservação.



Congelamento: Podemos conservar por congelamento ou utiliza-las de imediato.

16 comentários:

Ricardo Silva disse...

Obrigado por mais este excelente artigo!

Está muito bem explicado e ilustrado, espectacular mesmo.

Tenho definitivamente de me dedicar mais a esta espécie, quer para pescar, quer para petiscar, ou não fosse a Ericeira a terra dos ouriços (Ouriceira)!

Abraço!

Ricardo Silva

Anónimo disse...

Isto sim é o que eu chamo um verdadeiro trabalho de casa para a pesca ;)

Espero exprimentar essas chuchas em terras de nuestros Hermanos daqui a ums 25 dias :)

O GPS ja ta calibrado e com o spot marcado, sao 565 KMs

Abraço,
Miguel Aka Sargopt

Fernando Encarnação disse...

Ricardo obrigado pelo comentário, para petisco é um verdadeiro pitéu, depois de cozidos nem tem muita mão de obra, e com as minis correm um luxo...

Quanto a isca, se nós gostamos o que dirão os sargos e douradas, que nem se preocupam com os bicos.

Abraço.

Fernando Encarnação disse...

Miguel o TPC está iniciado, conto elaborar umas 200 até daqui a 25 dias, irão dar resultados, sabes disso...

Abraço.

Anónimo disse...

Boas

Excelente artigo amigo Fernando,uma vez mais brindas-nos com a pura sabedoria alentejana!

O Ouriço é para mim,um dos 3 melhores iscos para pesca no mar!

Viagem???Onde???Quando???


Aquele abraço
Sérgio Silva

Fernando Encarnação disse...

Viagem???Onde???Quando???

Sérgio Silva

Obrigado Sérgio.
Pura sabedoria que me foi transmitida pelo meu pai, quando era um miúdo que nem sabia o que era uma onda já ficava horas a fio a vê-lo conceber estes berlindes, que o pessoal da Carrapateira à uns anos atrás se referia aos pessoal da zona:

- Já aí vêem os alentejanos com os berlindes...

O ouriço é uma excelente isca sem dúvida, limitada a poucas espécies mas com grandes resultados a nível de tamanhos, para além de ser a melhor isca para pescar com águas tapadas e mar bravo.

Viagem Norte de Espanha, muito brevemente.

Toño disse...

Chapeau. Gran reportaje sobre cebo, perfectamente explicado y documentado, enhorabuena.
Nunca he usado el oricio como cebo,si como enguado, parece laborioso pero seguro que muy efectivo.

Un saludo, que tengais buen viaje y Feliz 2008

Fernando Encarnação disse...

Obrigado Toño pelo comentário, tienes de tentar te asseguro que é dos melhores cebos para os sargos, com mar muito bravo e águas escuras não necessita engodo, é efectivamente o melhor cebo. Poderás depois guardar ou utilizar todo o restante oricio para fazer engodo e pescar com águas mais claras.

Viagem até Corrubedo.

Buenas Entradas de 2008 e que traga muitos peixes e saúde.

Um cordial saludo.

Anónimo disse...

Ok

Que façam muito boa viagem e ficamos então á espera desses relatos.

Que 2008 seja melhor que 2007 !

Aquele abraço
Sérgio Silva

Fernando Encarnação disse...

Sérgio será certamente uma boa experiência para este grupo de amigos...

Também te desejo umas Boas Festas e Boas Entradas com boas capturas este ano que se aproxima e com muita saúde e sorte.

Abraço.

Anónimo disse...

adorei o artigo , me ajudaram muito a realisar uma pesquisa escolar espero que fasem mais materias boas como essa e obrigado me ajudaram muito abraço.
laura

Sergio Fernandes disse...

olá Sargus
estive a navegar no teu blog e gostei muito.
vou esperimentar a tua receita
abraço

Fernando Encarnação disse...

Viva Sérgio, desde ja o meu agradecimento pelo comentário.

Experimenta a receita no inverno com mar mais mexido e aguas tapadas em zonas quentes de sargos e depois verás...

;)

Cumprimentos

Unknown disse...

Gostei mto do Post. Gostava so de saber como se isca a xuxa no anzol?

Unknown disse...

boas! Gostaa de saber omo e que isca a xuxas sff. Abraços e mto bom post

Fernando Encarnação disse...

Basta colocares o anzol no interior da chucha, é simples.

:)