Reservas Marinhas no Algarve - parte I

André Dias*

Quando comecei a ouvir falar de reservas marinhas em Portugal, há quatro ou cinco anos, tive a oportunidade de assistir a uma palestra na Universidade do Algarve de um dos responsáveis do Instituto para a Conservação da Natureza na altura.

O tema não era bem esse, mas, após as apresentações dos vários convidados, teve lugar um período de discussão com os intervenientes e o diálogo seguiu para aí.

Para o final da discussão, o dito responsável começou a adiantar os valores que estavam previstos para se realizarem os estudos da área marinha portuguesa, com o objectivo de saber que áreas seriam importantes preservar.


Não me lembro bem dos valores, mas eram na ordem das dezenas de milhões de euros, o que deixou alguns professores presentes na dita conferência com interesse.


Então começou a parte interessante daquele fantástico momento de aprendizagem.

O responsável ficou obviamente constrangido, pois estavam a perguntar se haveria possibilidade de se fazer parcerias e candidaturas a projectos.


A resposta foi verdadeiramente esclarecedora.

«Aqui que ninguém nos ouve, essas verbas já estão todas direccionadas para despesas manutenção do próprio Instituto, pois o que vamos fazer é simplesmente alargar até à batimétrica dos 30 metros a área de intervenção dos parques naturais com fronteira marinha».


No final, toda a gente encolheu os ombros e foi para a casa.

Aquele foi um dos momentos mais desmotivadores do meu percurso escolar.


As pessoas chegam a uma determinada altura das suas carreiras e das suas vidas em que pura e simplesmente se esquecem da razão principal pela qual seguiram determinada área de estudo ou profissão.


É triste, verdadeiramente triste, ouvir isto de um alto responsável do Estado.

O governo diz que foram investidos milhões e milhões na conservação da natureza, mas é tudo manipulação financeira dos valores.


E agora começa a sair regulamentação para o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina e pergunto-me.

Será que, na Costa Sul, só se vai proteger a zona adjacente ao Parque Natural da Ria Formosa?


Existem muitas zonas que são da maior importância preservar, seja interditando, restringindo ou monitorizando o acesso e a exploração.


Desta forma, optimizar-se-ia a exploração directa do recurso através da pesca ou através de actividades de pesca lúdica ou mergulho, que, mais ligadas ao sector turístico, necessitam de locais com abundância e diversidade acima da média.

Enquanto há quem viva de fundos comunitários e públicos ao sabor da opinião pública, no terreno, os intervenientes no mar do Algarve vivem do que ele dá e da sua boa condição e têm, pelo estado debilitado em que se encontra, de se tornar agentes da sua conservação.


*Empresário das pescas


Fonte: Barlavento

2 comentários:

Anónimo disse...

ORA AI ESTA A FOZ DA VERDADE, ROUBAM TUDO E NÃO DEIXAM NADA.AS VERBAS FORAM INVESTIDAS NO INSTITUTO SO SE NO GAMANÇO, LUVAS E OFFSHORES.

ESTE JOVEM TEM RAZÃO ISTO É O QUE SABEMOS FORA O QUE NAO SE SABE.

VAMOS CORRER COM ESTES GAJOS DE NORTE A SUL DO PAIS.

Fernando Encarnação disse...

Viva anónimo.

Mais um excelente contributo do André, na matéria que domina e tem formação académica.

É apenas mais um exemplo da gestão e funcionalidade do ICNB.

Quanto às luvas, gamanço, off-shores e partidos políticos, não vou tecer qualquer comentário.

Abraço.